As Sete Cidades, o meu Amor!
Fic originalmente postada no ff.net em 14/10/2005. A versão original foi betada por Perséfone-San. A versão aqui postada não foi betada. Como Shaka mesmo falou, esta é a versão dele para os fatos de "Mil Perdões". A música incidental é "As Sete Cidades" do Legião Urbana.
- Droga! - foi a primeira coisa que exclamei, o que se seguiu foi uma enxurrada de palavras de baixo calão e um riso amargo. Ao meu redor, tudo era caos. Eu já havia rasgado fotos, quebrado pratos, mas nada, absolutamente nada era capaz de arrancar aquela dor absurda de dentro de mim. Eu não conseguia entender o porquê. Ele tinha me traído. Tinha me abandonado.
Outra enxurrada de palavrões.
Onde eu aprendera esse palavreado chulo? Outro pedaço de mim desconhecido. O que mais eu iria descobrir nessa viagem insólita dentro de mim mesmo? Odeio essa sensação horrível de não conseguir controlar esse meu coração maluco. Odeio-me por não sentir o que deveria sentir e sim coisas que eu não fazia a menor idéia de onde estavam vindo. Eu só sei que elas estão aqui, dentro de mim mesmo.
Que tolo sentimental ridículo eu havia me tornado.
Comecei a organizar meus pensamentos, comecei a me acalmar e consequentemente a me sentir melhor. A dor aguda e forte foi se tornando paulatinamente tristeza melancólica. Patético. Eu estou patético, ou seria, eu sou patético?
Já me acostumei com a sua voz
Com teu rosto e teu olhar
Me partiram em dois
E procuro agora
O que é minha metade
Eu decididamente não saberei mais viver sem você. Lembrei desta canção e comecei a cantarolar sozinho em minha casa. Ainda bem que não tinha ninguém ouvindo, cantar decididamente não está entre as minhas proficiências.
Parecia uma canção boba, mais um enlatado para adolescentes em suas primeiras crises existenciais, mas por mais incrível que possa parecer eu me sentia assim. Não sou velho, longe disso, porém eu já morri, já renasci, já lutei, fui o primeiro a chegar ao oitavo sentido... Sou sábio, mas me peguei imaturo no que diz respeito a você, no que diz respeito a nós, no que diz respeito a sentir.
Quando não estás aqui
Sinto falta de mim mesmo
E sinto falta do meu corpo junto ao teu
Não sei quando, não sei como, nem sei o porquê. Só sei que a simbiose se deu de tal maneira que agora não sei mais quem sou. Não sei mais quem és. Agora, talvez, eu nunca mais consiga ser eu mesmo, ou juntar os meus cacos, porém, talvez este não seja o erro? Eu preciso conseguir me encontrar para te encontrar.
Meu coração é tão tosco e tão pobre
Não sabe ainda,os caminhos do mundo
Grande! Como um autor desconhecido pra mim, de um lugar tão distante, consegue ver tão bem dentro de mim? Eu realmente preciso descobrir os caminhos de minha vida para, quem sabe, tê-lo novamente. Como é possível que eu, o mais próximo de deus, precise de uma música boba para aceitar o óbvio?
Quando não estás aqui
Tenho medo de mim mesmo
E sinto falta do teu corpo junto ao meu
Olho ao meu redor. Minha casa tão metodicamente organizada está destruída. Está um caos. Reflete exatamente o que vai dentro de mim e tudo isso eu fiz sozinho. A ironia disso tudo é que agora o ambiente está a sua cara. Tudo a minha volta me lembra você. Queria me livrar de você e da sua presença mas, involuntariamente, acabei te trazendo cada vez mais para perto de mim.
Vem depressa pra mim
Que eu não sei esperar
Já fizemos promessas demais
Meu imediatismo, minha necessidade maior de tê-lo se manifestaram em forma de um grito mudo. Senti meu cosmo explodir com todos os sentimentos contraditórios que perpassavam por mim nestes momentos de dolorosa reflexão. Pela primeira vez em minha vida senti medo. O medo insano que uma criança sente do monstro invisível que se esconde no armário. Eu queria me levantar, me livrar da letargia que se instaurou em meu ser e ir até você, mas eu sabia que havia passado, e muito, dos limites do aceitável. Havia perdido a razão e você. Meu orgulho quebrantado era a única coisa que me restava, era o único pedaço de mim que eu ainda conseguia reconhecer. Não posso, não pude, não poderei ir até você. Desejo com todas as minhas forças que você seja menos tolo que eu (ou talvez mais, mas não tenho condições de fazer juízo de valores) e venha até mim.
Já me acostumei com a tua voz
Quando estou contigo estou em paz
Quando não estás aqui
Meu espírito se perde
Voa longe
Já estava quase chegando ao desespero novamente. Senti sua aproximação, senti sua presença. Um calor gostoso tomou conta de mim e circulei meus braços em volta de meu próprio corpo para tentar me proteger e me aquecer do frio que se seguiu, mas não consegui evitar o retorno da dor e do medo. Perguntei se veio escarnecer de mim, chutar cachorro morto.
Quanta tolice, quanta infantilidade. Eu devia te conhecer melhor. Você nunca faria isso. Mesquinhez não faz parte de você. Você é muito mais que isso. Mesmo assim, respondeu a minha pergunta idiota com um não seco e engasgado, estendeu sua mão e me entregou uma carta com lágrimas nos olhos. O que eu havia feito? O que nós havíamos feito? Você permaneceu em silêncio enquanto eu lia. Um silêncio pesado, que em muitos casos dizia mais que mil palavras. Senti as forças abandonarem minhas pernas e vou caindo, caindo... Até estar completamente sentado no chão de minha casa encostado em uma das muitas pilastras que a sustentam. Dissera tudo em sua carta. Preenchera as lacunas da minha dor. Respondera as minhas perguntas.
Então era verdade o que eu sentira. Meu amor me cegara a tal ponto que não pude ver o que estava fazendo. Nós dois somos um se nos completarmos, mas eu havia tentado nos tornarmos um o anulando e me anulando. Tentara torná-lo um eu que nem eu mesmo sabia existir. Quanta tolice! Mas eu tenho que aprender, e só você pode me ensinar e por uma última vez me humilhei. Eu que sou mestre, preciso, para ser feliz, me tornar novamente um aprendiz. E te pedi para ser o meu mestre. Por uma última vez, prometi a você e a mim, estaria a seus pés. Me estendeste sua mão e senti novamente seus lábios. Creio não existirem palavras capazes de descrever com exatidão tudo que senti naquele momento. Meu corpo apático se encheu de vigor, de vida. Foi um começo. O passado fora apagado. Ele simplesmente deixara de existir naquele momento.
Durante todo o dia que se seguiu, aprendemos juntos lições de vida e de convivência que nunca aprendemos durante os longos anos de nossos treinamentos e lutas. Ensinou-me como fazê-lo feliz e descobri, para meu próprio espanto, o quanto me doar e ceder pode me fazer feliz. Como as pequenas coisas da vida são grandes e como a felicidade é feita de momentos simples e singelos.
Meu corpo despertou. Senti desejo. Aquele desejo cru, libidinoso, mas não era a hora, não era o momento. Tínhamos coisas mais importantes para resolver e vi meu egoísmo nato ser suplantado pelo meu amor. Descobri a grandeza e a nobreza do sentimento que nutro por ti. Meu grande teste (de mim para mim mesmo, que fique claro!) foi ao anoitecer, perguntar-te se ias sair. Se me dissesse sim, tu irias sem pesar. Eu ficaria bem, feliz em esperar-te, mas me quiseste a teu lado. E eu fui. E me diverti como nunca em minha vida. Não há nada melhor que a liberdade. Não há nada melhor que a liberdade a teu lado. E como foi difícil compreender algo tão simples, tão óbvio, tão ululante.
Ao findar da noite, me perguntaste se eu confiava em ti. Mu, eu sempre confiei em você. Eu não confiava em mim. Agora confio em você, em mim, em nós. Fomos para sua casa em Jamiel e fizemos amor. Sim! Nós fizemos amor! E descansei em teu corpo, meus olhos fechados e minha respiração cadenciada fizeram com que pensaste que eu estava dormindo, mas não estava. Apenas saboreava os momentos de prazer que desfrutamos e pude, então, ouvir perfeitamente o que exclamara antes de adormecer:
"Shaka eu nos perdôo."
As sete cidades, o meu amor
- Droga! - foi a primeira coisa que exclamei, o que se seguiu foi uma enxurrada de palavras de baixo calão e um riso amargo. Ao meu redor, tudo era caos. Eu já havia rasgado fotos, quebrado pratos, mas nada, absolutamente nada era capaz de arrancar aquela dor absurda de dentro de mim. Eu não conseguia entender o porquê. Ele tinha me traído. Tinha me abandonado.
Ri novamente, amargo, histérico.
Eu sempre tive controle cobre mim mesmo e também, ouso dizer, sobre os outros. Tudo sempre teve que funcionar como eu queria, na hora que eu queria. Meus desejos sempre foram soberanos. Sempre tive essa necessidade premente de controle. Método, disciplina, controle e distanciamento sempre foram as palavras que nortearam meu agir, meu viver, meu eu. Sim, esse era eu, até encontrá-lo e agora simplesmente isso; o fim. O nada. Eu deveria odiá-lo, estar ao menos com raiva, mas não, eu o amo cada vez mais, cada vez mais profundamente e sinto, bem no fundo de meu ser, em algum lugar dentro de mim que eu nem sonhava que existisse, um sentimento de culpa. Não consigo identificar onde errei, mas sei que errei. Sinto culpa e me odeio por isso.
Outra enxurrada de palavrões.
Onde eu aprendera esse palavreado chulo? Outro pedaço de mim desconhecido. O que mais eu iria descobrir nessa viagem insólita dentro de mim mesmo? Odeio essa sensação horrível de não conseguir controlar esse meu coração maluco. Odeio-me por não sentir o que deveria sentir e sim coisas que eu não fazia a menor idéia de onde estavam vindo. Eu só sei que elas estão aqui, dentro de mim mesmo.
Que tolo sentimental ridículo eu havia me tornado.
Comecei a organizar meus pensamentos, comecei a me acalmar e consequentemente a me sentir melhor. A dor aguda e forte foi se tornando paulatinamente tristeza melancólica. Patético. Eu estou patético, ou seria, eu sou patético?
Já me acostumei com a sua voz
Com teu rosto e teu olhar
Me partiram em dois
E procuro agora
O que é minha metade
Eu decididamente não saberei mais viver sem você. Lembrei desta canção e comecei a cantarolar sozinho em minha casa. Ainda bem que não tinha ninguém ouvindo, cantar decididamente não está entre as minhas proficiências.
Parecia uma canção boba, mais um enlatado para adolescentes em suas primeiras crises existenciais, mas por mais incrível que possa parecer eu me sentia assim. Não sou velho, longe disso, porém eu já morri, já renasci, já lutei, fui o primeiro a chegar ao oitavo sentido... Sou sábio, mas me peguei imaturo no que diz respeito a você, no que diz respeito a nós, no que diz respeito a sentir.
Quando não estás aqui
Sinto falta de mim mesmo
E sinto falta do meu corpo junto ao teu
Não sei quando, não sei como, nem sei o porquê. Só sei que a simbiose se deu de tal maneira que agora não sei mais quem sou. Não sei mais quem és. Agora, talvez, eu nunca mais consiga ser eu mesmo, ou juntar os meus cacos, porém, talvez este não seja o erro? Eu preciso conseguir me encontrar para te encontrar.
Meu coração é tão tosco e tão pobre
Não sabe ainda,os caminhos do mundo
Grande! Como um autor desconhecido pra mim, de um lugar tão distante, consegue ver tão bem dentro de mim? Eu realmente preciso descobrir os caminhos de minha vida para, quem sabe, tê-lo novamente. Como é possível que eu, o mais próximo de deus, precise de uma música boba para aceitar o óbvio?
Quando não estás aqui
Tenho medo de mim mesmo
E sinto falta do teu corpo junto ao meu
Olho ao meu redor. Minha casa tão metodicamente organizada está destruída. Está um caos. Reflete exatamente o que vai dentro de mim e tudo isso eu fiz sozinho. A ironia disso tudo é que agora o ambiente está a sua cara. Tudo a minha volta me lembra você. Queria me livrar de você e da sua presença mas, involuntariamente, acabei te trazendo cada vez mais para perto de mim.
Vem depressa pra mim
Que eu não sei esperar
Já fizemos promessas demais
Meu imediatismo, minha necessidade maior de tê-lo se manifestaram em forma de um grito mudo. Senti meu cosmo explodir com todos os sentimentos contraditórios que perpassavam por mim nestes momentos de dolorosa reflexão. Pela primeira vez em minha vida senti medo. O medo insano que uma criança sente do monstro invisível que se esconde no armário. Eu queria me levantar, me livrar da letargia que se instaurou em meu ser e ir até você, mas eu sabia que havia passado, e muito, dos limites do aceitável. Havia perdido a razão e você. Meu orgulho quebrantado era a única coisa que me restava, era o único pedaço de mim que eu ainda conseguia reconhecer. Não posso, não pude, não poderei ir até você. Desejo com todas as minhas forças que você seja menos tolo que eu (ou talvez mais, mas não tenho condições de fazer juízo de valores) e venha até mim.
Já me acostumei com a tua voz
Quando estou contigo estou em paz
Quando não estás aqui
Meu espírito se perde
Voa longe
Já estava quase chegando ao desespero novamente. Senti sua aproximação, senti sua presença. Um calor gostoso tomou conta de mim e circulei meus braços em volta de meu próprio corpo para tentar me proteger e me aquecer do frio que se seguiu, mas não consegui evitar o retorno da dor e do medo. Perguntei se veio escarnecer de mim, chutar cachorro morto.
Quanta tolice, quanta infantilidade. Eu devia te conhecer melhor. Você nunca faria isso. Mesquinhez não faz parte de você. Você é muito mais que isso. Mesmo assim, respondeu a minha pergunta idiota com um não seco e engasgado, estendeu sua mão e me entregou uma carta com lágrimas nos olhos. O que eu havia feito? O que nós havíamos feito? Você permaneceu em silêncio enquanto eu lia. Um silêncio pesado, que em muitos casos dizia mais que mil palavras. Senti as forças abandonarem minhas pernas e vou caindo, caindo... Até estar completamente sentado no chão de minha casa encostado em uma das muitas pilastras que a sustentam. Dissera tudo em sua carta. Preenchera as lacunas da minha dor. Respondera as minhas perguntas.
Então era verdade o que eu sentira. Meu amor me cegara a tal ponto que não pude ver o que estava fazendo. Nós dois somos um se nos completarmos, mas eu havia tentado nos tornarmos um o anulando e me anulando. Tentara torná-lo um eu que nem eu mesmo sabia existir. Quanta tolice! Mas eu tenho que aprender, e só você pode me ensinar e por uma última vez me humilhei. Eu que sou mestre, preciso, para ser feliz, me tornar novamente um aprendiz. E te pedi para ser o meu mestre. Por uma última vez, prometi a você e a mim, estaria a seus pés. Me estendeste sua mão e senti novamente seus lábios. Creio não existirem palavras capazes de descrever com exatidão tudo que senti naquele momento. Meu corpo apático se encheu de vigor, de vida. Foi um começo. O passado fora apagado. Ele simplesmente deixara de existir naquele momento.
Durante todo o dia que se seguiu, aprendemos juntos lições de vida e de convivência que nunca aprendemos durante os longos anos de nossos treinamentos e lutas. Ensinou-me como fazê-lo feliz e descobri, para meu próprio espanto, o quanto me doar e ceder pode me fazer feliz. Como as pequenas coisas da vida são grandes e como a felicidade é feita de momentos simples e singelos.
Meu corpo despertou. Senti desejo. Aquele desejo cru, libidinoso, mas não era a hora, não era o momento. Tínhamos coisas mais importantes para resolver e vi meu egoísmo nato ser suplantado pelo meu amor. Descobri a grandeza e a nobreza do sentimento que nutro por ti. Meu grande teste (de mim para mim mesmo, que fique claro!) foi ao anoitecer, perguntar-te se ias sair. Se me dissesse sim, tu irias sem pesar. Eu ficaria bem, feliz em esperar-te, mas me quiseste a teu lado. E eu fui. E me diverti como nunca em minha vida. Não há nada melhor que a liberdade. Não há nada melhor que a liberdade a teu lado. E como foi difícil compreender algo tão simples, tão óbvio, tão ululante.
Ao findar da noite, me perguntaste se eu confiava em ti. Mu, eu sempre confiei em você. Eu não confiava em mim. Agora confio em você, em mim, em nós. Fomos para sua casa em Jamiel e fizemos amor. Sim! Nós fizemos amor! E descansei em teu corpo, meus olhos fechados e minha respiração cadenciada fizeram com que pensaste que eu estava dormindo, mas não estava. Apenas saboreava os momentos de prazer que desfrutamos e pude, então, ouvir perfeitamente o que exclamara antes de adormecer:
"Shaka eu nos perdôo."
Frese do dia
"Há dois graus no orgulho: um, em que nos aprovamos a
nós próprios, o outro, em que não podemos aceitar-nos. Este provavelmente o mais requintado." ( Henri Frédéric Amiel )
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home