Recanto nem tão secreto de uma Ariana

Aceita um copo? Então sente-se, acomode-se e divirta-se.

16 agosto, 2008

Avesso

Esta fic foi postada originalmente no ff.net em 19/04/2006. É uma short-fic, song-fic. Esta música é muito especial pra mim e não consigo ver outro casal para esta trilha sonora além de Afrodite e Death Mask. Esclarecendo e dando os devidos créditos. A música é "Avesso" de Jorge Vercilo.

Avesso


Eu já não sou mais nenhum adolescente. Te conheço desde sempre. Não sei em que momento eu comecei a amar-te. Hoje te amo mais que a mim mesmo. Não foi fácil aceitar.

No momento que soube e percebi que meus olhos só brilhavam para você, entrei em crise. Não me aceitei. Não queria. Você é belo como o luar. Muitas vezes obscuro como a noite. Eu sou claro como o dia. Andrógeno como meus próprios sentimentos. Mas o que posso fazer? Eu sou o que sou. Não posso nem quero mais negar. Lutei, lutei, lutei em vão. Então me aceitei e agora sou feliz, ou quase, porque ainda não tenho você.

Sentei-me em um bar qualquer. Já sou adulto o suficiente para ir a bares, como sei que também o é. Um garçom se aproximou.

- A senhorita deseja alguma coisa?

Virei-me para ele e vi o desconserto em sua face ao perceber o engano. Sorri com complacência. Esse engano era natural. Eu muitas vezes já me peguei me olhando no espelho e vendo uma “senhorita”.

- Me desculpe. O senhor deseja algo?

- Não precisa se desculpar. – falei de forma natural, sem afetação – Por favor, um wisky duplo, sem gelo.

- Em um instante.

Impaciente, tamborilei a mesa com os dedos enquanto esperava minha bebida. Será que você viria? Apesar de nossa amizade ser longínqua, sei que hoje evita estar comigo. Tem medo? Não posso dizer. Não sei. Só sei que a distância me dói mais do que tenho coragem de admitir para mim mesmo. O som suave tocava músicas da moda. Eu não prestava atenção até que começou a tocar algo que me despertou a atenção. O autor me conhecia? Nos conhecia?

Nós já temos encontro marcado
Eu só não sei quando
Se daqui a dois dias
Se daqui a mil anos
Com dois canos pra mim apontados
Ousaria te olhar, ousaria te ver
Num insuspeitável bar, pra decência não nos ver
Perigoso é te amar, doloroso querer
Somos homens pra saber o que é melhor pra nós
O desejo a nos punir, só porque somos iguais
A Idade Média é aqui
Mesmo que me arranquem o sexo, minha honra, meu prazer
Te amar eu ousaria
E você, o que fará se esse orgulho nos perder?

No clarão do luar, espero
Cá nos braços do mar me entrego
Quanto tempo levar, quero saber se você
É tão forte que nem lá no fundo irá desejar
O que eu sinto, meu Deus, é tão forte!Até pode matar
O teu pai já me jurou de morte por eu te desviar
Se os boatos criarem raízes
Ousarias me olhar, ousarias me ver
Dois meninos num vagão e o mistério do prazer
Perigoso é me amar, obscuro querer
Somos grandes para entender, mas pequenos para opinar
Se eles vão nos receber é mais fácil condena rou noivados pra fingir
Mesmo que chegue o momento que eu não esteja mais aqui
E meus ossos virem adubo
Você pode me encontrar no avesso de uma dor
No clarão do luar, espero
Cá nos braços do mar me entrego
Quanto tempo levar, quero saber se você
É tão forte que nem lá no fundo irá desejar

Eu cantarolei junto ao cantor. Nosso caso estava ali. Eu estava ali. De frente pra mim mesmo. Era o meu espelho. Era o nosso espelho. Vejo você entrar. Lindo. Belo. Rebelde e forte como sempre.

- Afrodite...

- Não diga nada. Não se justifique. É bom que esteja aqui. É bom poder vê-lo. Ao menos uma última vez.

- Por que uma última vez? Não me quer mais?

Eu sorri. Seria impossível não querê-lo mais, a não ser que não quisesse mais a mim mesmo. Sorri e me mantive em silêncio. Esqueci até mesmo de respirar enquanto me hipnotizava por seus olhos.
- Não sei quanto a você, mas eu não agüento mais esconder. Eu não agüento mais tanta hipocrisia. Que tudo, que todos vão às favas. Eu sou teu, se assim o quiser.

Continuei em silêncio. Apenas coloquei minha mão sobre a dele e sorri. Minha bebida chegou. Um gole. Dois. Via seu olhar confuso a me espreitar.

- Cáspita. Não vai falar nada?

- Pra quê falar? Não tenho necessidade de palavras. Elas são vãs, são fúteis. Eu te amo. Eu te quero, fui, sou e serei seu, então pra que falar? Vamos apenas jantar, como bons amigos e sair daqui juntos para o futuro. Que lhe parece?

Ele apenas me olhou e chamou o garçom.

- Por favor. Lasanha para dois, uma garrafa de vinho. – se virou para mim – Vamos jantar. Estou faminto.

Quando se ama, se espera e não se precisa de palavras. Palavras voam com o vento...

Frase do Dia

"A ação é uma grande restauradora e
construtora da confiança. A inatividade não só é o resultado, mas a causa do
medo. Talvez a ação que você tome tenha êxito; talvez uma ação diferente ou
ajustes terão de ser feitos. Mas qualquer ação é melhor que nenhuma."
( Norman Vincent Peale )