Repetindo Post
Nos últimos dias temos assistidos estarrecidos mais uma avalanche de
violência desordenada. Só me pergunto o porquê de ainda usarmos a palavra
estarrecidos, assustados, assombrados, horrorizados ou qualquer outro adjetivo
que o valha. Estas eclosões pontuais de violência, a meu ver, nada mais são que
explosões da válvula de segurança da panela de pressão que vivemos. Tenho mesmo
medo é do dia que esta panela explodir realmente com toda sua fúria.Durante
algum tempo participei da militância política, crendo, em minha inocência, que
talvez pudesse fazer diferença. Tolices infantis de uma alma sonhadora. Ainda
creio que talvez possa fazer diferença, mas educando, falando, criticando.
Participar da política institucional deste país nada mais é do que participar de
uma falácia tola e sem sentindo.Ainda tenho idéias e convicções de esquerda.
Nunca deixarei de tê-las. Acredito na igualdade, acredito na justiça social,
acredito na educação e aguardo, dia após dia, o fim do capitalismo, assim como a
história já assistiu ao fim dos grandes impérios MERCANTILISTAS, ao fim do
regime feudal, ao fim do comunismo stalinista e está vendo o fim do comunismo
chinês.Ainda creio em uma terceira via. Com a globalização, a fusão de idéias e
culturas, crenças e valores, ainda creio que se haverá uma terceira via. Só
espero que ela aconteça antes que a panela exploda de vez e só reste a nós catar
os cacos do que sobrar e limpar a sujeira.Mas tudo que estou falando não passa
também de um discurso pseudo-intelectualóide como os que eu tanto critiquei
quando me deseludi com o Partidão e chutei o balde da política.Se alguém chegou
até aqui deve estar se perguntando o porquê então deste post.Antes de mais nada,
e de volta ao começo, temos que tirar o véu de indignação politicamente correta
da frente dos olhos e ver que convivemos, dia após dia, com uma violência muito
mais cruel que sei lá eu quantos mortos numa onda de revolta. Vivemos com a
violência da opressão do nosso direito de mudar. Estamos com as mãos atadas
pelas contas, pela falta de tempo, pela ignorância, pelo medo da "pequena"
violência que nos atinge muito mais e nos consome sem que ao menos nos déssemos
conta disso.A cada dia mais nos encastelamos em nosso próprio microcosmo,
olhando cada vez mais para o nosso próprio umbigo em busca do "pão nosso de cada
dia", pedindo a Deus, implorando por um milagre que não vem. Estamos sendo
egoístas. Não! Estamos apenas tentando sobreviver da melhor maneira possível com
aquilo que nos é dado.Cada vez que pens sobre isso me pego questionando-me, se
pensa que sabe onde está o problema, porque não vai atrás das soluções?Eu não
tenho soluções mágicas. Não existem soluções mágicas. Creio que está na hora das
pequenas soluções e dos pequenos milagres do dia a dia. Da mãe que leva seus
filhos para a escola mesmo não acreditando poder livrá-los dos tentáculos do
crime. Do pai que mesmo exausto depois de 12 horas de serviço e mais outras
tantas em conduções torturantes para chegar em casa ainda encontra ânimo para
afagar seu filho e ouvir suas besteiras infantis. Dos tolos como eu que ainda
perdem tempo falando aquilo que todo mundo já ouviu, mas nunca prestou atenção.
Do faminto que ganha um pão e o divide com o faminto do lado.Convido a todos a
participar do movimento em busca do pequeno milagre e repudiar todo aquele que
disser que é tolice, estupidez ou utopia acreditar que ainda podemos
mudar.Convido a todos a ter esperança, mas não a esperança de que um Deus, um
homem ou um governo possam reverter a situação e sim a esperança de que, mesmo
que em doses homeopáticas, cada um possa, paulatinamente, mudar sua própria
realidade e, consequentemente, a realidade daqueles que o cercam.E que os
corruptos, os inescrupulosos, os verdadeiramente egoístas, sejam eliminados do
nosso convívio e da nossa aceitação.Eu mesma rezo pela cartilha do "farinha
pouca, meu pirão primeiro", mas, mesmo assim, nunca seria capaz de destruir algo
ou alguém deliberadamente só para ter uma vantagem ilusória, porque mais dia,
menos dia, eu acredito que teria que pagar o preço dos meus atos. Não por
justiça divina, ou obra e graça do espírito santo, e sim porque toda ação gera
uma reação de igual tamanho e grandeza.Me perdoem o desabafo, a falta de graça e
de humor, tão característicos meus, deste post, mas não podia ficar calada
perante o que vejo tão claramente acontecer diante de meus olhos. Mesmo que
ninguém leia, ou que ache tudo isto uma enorme bobagem, eu vou dormir tranquila
comigo mesma por ter tentado fazer o meu pequeno milagre.Vou parar por aqui sem
a visita de meus amigos de blog, sem pensamento do dia, sem piada do dia, sem
imagens, sem mais nada, pois o que me resta, depois de esvaziar-me de indignação
é exatamente isso. Nada.
Repeti este post de 15 de Maio de 2006... Quase três anos se passaram e a minha indignação continua a mesma. A minha revolta ainda maior. Continuo sentada no mesmo lugar, com as mesmas idéias. Tenho medo. Medo de ver minha vida passar e nada mudar. Medo pelos filhos que não tive. Medo estranho. Uma vontade de chorar por mim, por todos nós. Uma dor no peito que não existe remédio para curar. Nada mais nos resta a não ser seguir em frente realizando o único pequeno milagre que ainda nos resta: sobreviver.
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