Recanto nem tão secreto de uma Ariana

Aceita um copo? Então sente-se, acomode-se e divirta-se.

05 novembro, 2008

Revolta - Cap. II

Disclamer: Saint Seiya e todos os seus personagens não me pertencem, e sim ao titio Kurumada (o que é uma sacanagem, mas tudo bem, fazer o quê?)

Comentários da Autora: Esta fic nasceu de um desafio que fiz a mim mesma. O que aconteceria de Shun-Rei deixasse de ser pacata e subserviente? Como Shiryu reagiria? O resultado são as linhas abaixo. Lembrem-se os personagens estão OOC. Espero que gostem. Abraços.


Revolta - Cap. II - Momento lavanderia


Shiryu chegou ao Templo de Áries rapidamente. Tomara um banho relâmpago colocara uma roupa simples de treinamento e fora ao encontro de sua esposa. Quando entrou na casa de Áries, ela encontrava-se sentada à mesa da cozinha. Acabara de tomar o refresco oferecido por Kiki e comia alguns biscoitos destraidamente.

- Querida, que saudades. Estou tão feliz por te ver. – o cavaleiro abraçou Shunrei e beijou sua cabeça.

- Pode me largar seu sem-vergonha, desnaturado! – ela se levantou abruptamente virando-se para ele. Seus olhos faiscavam de raiva. “Que cara-de-pau! Se pensa que vai me amansar assim está muito enganado!”

- O que está acontecendo? Depois de tanto tempo vem aqui para me xingar? Se é esse o caso, pode voltar pelo mesmo caminho.

- Provavelmente eu voltarei pelo mesmo caminho em breve, mas não antes de falar tudo que tenho a dizer. Espero que me ouça se ainda lhe restar algum respeito por mim.

- Você sabe que te respeito e te amo. Não consigo entender o porquê de estar assim.

- Se você ligasse para sua casa, se você ligasse para sua família talvez tivesse alguma idéia do que está acontecendo.

- Shunrei, por favor controle-se. Vamos conversar feito duas pessoas civilizadas. Nem mesmo estamos em nossa casa. Não creio que se conveniente abusarmos tanto da hospitalidade alheia.

- Conveniente! Você só pode estar de gozação comigo! Eu quero que sua conveniência vá para o caralho! Você preocupa-se demais com os outros. Mas concordo que não devemos incomodar Kiki com nossos problemas. Ele fora deveras gentil comigo. Vamos para sua casa, ou será que não é conveniente que eu entre lá?

Shiryu nada falou. Pegou Shunrei pelo braço e começou a arrastá-la para fora da casa de Áries, subindo as escadas.

Os templo e seus guardiões estavam muito mudados. Uma legião de novos cavalheiros ocupavam hoje as doze casas do Zodíaco. Os ressurrectos Cavaleiros de Ouro que lutaram na última Guerra Santa hoje viviam em paz com seus pares. Alguns ainda moravam na Vila do Santuário, como Milo e Camus, outros retornaram para suas terras natal como Mu e Shaka que foram morar na torre de Jamiel. Algumas casas ainda estavam vazias, como a casa de Touro, esperando a formação do novo guardião, outras eram ocupadas pelos antigos cavaleiros de bronze, como a que ele próprio ocupava, Libra.

Continuou subindo as escadas, sem importar-se com os olhares curiosos que recebia. Shunrei, apenas o acompanhava – devidamente arrastada pelo braço – em silêncio. Guardava para si o muito que tinha a dizer até que estivessem novamente a sós.

Finalmente chegaram a casa de Libra. Entram nos aposentos reservados ao cavaleiros. Se acomodaram na cozinha simples da casa de Libra que muito lembrava a ela sua própria casa em Rozan. Ela sentiu-se bem ali e isso a deu mais coragem e força. Seria bem melhor discutir o que precisava em um ambiente que não a intimidasse.

- Estamos a sós agora. Pode falar o que tem a dizer. Sou todo ouvidos.

- Quer parar com essa pose de “ela está fora de si, vou ser condescendente”. Você sabe muito bem que está tudo errado.

- Será que você pode me explicar o que está errado. Do que estou sendo acusado afinal. Porra, você não viajou centenas de quilômetros para ficar aqui apenas a me ironizar? Não creio.

- Você não vai perguntar como estão seus filhos?

- E você me deu tempo para isso? Que tal começarmos de novo? Shunrei, estou feliz em vê-la, como vai você? Como vão as crianças?

- Cachorro, cretino, sem-vergonha, eu vou bem, na medida do possível, para uma mulher abandonada pelo marido que quase perdeu o filho mais novo.

- Quase perdeu o filho mais novo? O que você está querendo dizer com isso?

- Simples, quando você vem pra cá, babar ovo da deusa pop-star, se esquece que tem família, que tem esposa e filhos. Não sei se lembra que quando saiu de casa, eu implorei que não viesse. Junior estava doente, febril. A sua saída agravou as coisas, a febre piorou consideravelmente, de tal forma que não conseguia mais controlar com os remédios que eu sempre usei. Fiquei desesperada, pedi a um aldeão que me levasse de carroça, com o menino delirando em meus braços até o hospital mais próximo, que você sabe, não é tão próximo assim. Mandei centenas de recados para esse Santuário, mas você estava incomunicável. A pobre telefonista já até sabia de todos os nossos dramas e me perguntava preocupada como estava o nosso moleque, e você? E você Shiryu? Eu orava noite após noite para que regressasse ou ao menos ligasse pra mim. Chorava escondida no hospital cada vez que o Júnior, em seus delírios, chamava por você. Responda-me sinceramente: o que te fiz, o que fiz aos Deuses, para merecer tamanha dor, tamanha angústia?

- Por Zeus!

Shiryu se calou. Não tinha o que falar. Só podia baixar a cabeça e aceitar todos os adjetivos que recebera. E merecia alguns piores. Recebera os recados, como todos os outros cavaleiros o recebem, em envelopes lacrados. Não se dera nem ao trabalho de abri-los. Já poderia ter voltado a Rozan há muito tempo, mas enrabichara-se pela amazona que estava com ele na arena e por um período de tempo esquecera-se de Shunrei, esquecera-se das crianças, esquecera-se de tudo.

- Eu gostaria de saber o que aconteceu com o homem sensível, preocupado, amoroso com que me casei? O que aconteceu com você? Onde eu errei? Onde nós erramos? Depois de velho está ficando safado? Você nunca me deu toda a atenção que eu desejava, mas eu sabia que seria assim quando aceitei casar-me com você. Mas agora! Minha paciência se esgotou. Ver meu filho quase morrer por causa de um pai que ele viu poucas vezes na vida? Foi demais para mim. Você travou batalhas mortais, defendeu Athena e a humanidade, por aqueles que o conhecem, é respeitado, admirado. E eu? O que foi a minha vida, o que tem sido a minha vida nestes últimos dez anos? Estou com 27 anos de idade e pela primeira vez em minha vida vi um microondas no aeroporto. Lavo, passo, cozinho, crio as crianças como faziam nossos antepassados. Mas elas pelo menos tinham seus maridos a seu lado. Nem a isso tenho direito, mesmo em tempos de paz. Eu quero viver Shiryu. Gostaria de viver a seu lado, mas não me parece ser isso que quer.

- Você está sendo injusta. Sempre que pude voltei correndo para casa, voltei correndo para você. Nunca esqueci um só instante de você. – “desde quando se tornara um mentiroso, Dragão?” – sua consciência o repreendia.

- Não tente me tornar mais tola do que já sou!

- Está certo, sou um canalha, um cachorro, um sem-vergonha, mas foi esse canalha que se casou com você, que deitou na sua cama, que tirou sua virgindade, que te deu lindos filhos, foi esse canalha que, mesmo não estando presente sempre que desejou, nunca deixou que nada faltasse a você ou aos seus filhos. E é esse canalha que ajoelha a seus pés agora e pede perdão. – ele resolvera mudar de tática e realmente assumir para si as culpas que tinha e pedir perdão. Ela o perdoaria e tudo voltaria a entrar nos eixos. Pelo menos assim ele acreditava.

- Quantas vezes nós já discutimos? Quantas vezes já me pediu perdão? Quantas vezes eu já me esqueci de meu peito ferido? Não, não estou disposta a ceder mais uma vez. Para mim chega. Vim aqui, antes de mais nada, te dizer tudo que me sufocava, que estava sangrando meu coração dia após dia e comunicar que estarei indo para Pequim com as crianças. Lá poderemos ter mais oportunidades do que na perdida aldeia de Rozan.

- Não existe outra maneira de resolvermos isso? Eu não quero que se vá. Não quero perdê-la.

- Pare. Não fale mais nada. Quantas vezes eu já ouvi este mesmo discurso, esta mesma ladainha. Não tem mais volta. Dei-te quantas chances me pediu, mais até mesmo do que deveria e o que fez? Pensa que não sei o porquê da rapidez com que Kiki foi atrás de você? Não o repreendo. Ele é seu amigo e gostaria de poupar-me da cena constrangedora de vê-lo agarrado a outra mulher. Eu conheço seu cosmo a quilômetros de distância, me é tão natural quanto respirar. Sei quando está excitado, sei quando está nervoso, sei quando está triste. Conheço-te mais do que a mim mesma. Você sempre foi meu mundo, meu Deus, meu ídolo, e como você me retribui? Se agarrando pelos cantos com sei lá eu quem? Há quanto tempo? Quando poderia ter realmente voltado se quisesse?

- Olhe para você, olhe para sua amargura, olhe para suas reclamações. Você nunca foi enganada no tocante a minha vida, mas mesmo assim quis ficar comigo. Inúmeras vezes chamei-te para vir comigo morar no Santuário e você nunca quis. Cada vez que eu voltava para casa, mais uma enxurrada de reclamações, problemas, sem carinho, sem nada. Para ter sexo, isso mesmo, sexo, porque amor deixamos de fazer a anos, eu quase precisava estuprá-la. Que homem quer voltar para casa e encontrar a mulher que sempre amou desta maneira? Me diga! Seja sincera! Você acha que só você tem problemas? Nós nunca conversamos. Eu sempre ouvi calado suas reclamações. Sempre ouvi calado seu desdém por minha deusa, por meus amigos, por minha luta, até mesmo por minha armadura. Você pensa que é a dona da verdade? Você pensa que só você sofre? Quanto egocentrismo Shunrei. Nunca pensei que você pudesse ser assim! Eu realmente não gostaria que fosse embora. Apesar de estar realmente agarrado no cangote de uma amazona, eu te amo. Eu te amo, porra! Está me ouvindo? EU TE AMO. – neste momento, possivelmente todo Santuário já seria capaz de ouvir a discussão travada no interior da casa de Libra, sem que percebessem há muito tempo já estavam aos berros – Mas não vou implorar que fique, não vou rastejar atrás de você como já fiz muitas vezes, se quiser realmente ir para Pequim, para Tókio, para Paris, para o Rio de Janeiro, vá! Não vou dizer que não sofrerei pois seria mentira, mas não a impedirei de fazer o que quer que deseje. Mas que uma coisa fique bem clara. Meus filhos você não levará contigo. Não deixarei que se aventurem pelo mundo afora com uma mãe despreparada e visivelmente desequilibrada.

- É claro que eu levarei as crianças comigo. E desequilibrada é uma pinóia.

- Você não ouviu nada do que eu disse?

Shunrei permaneceu em silêncio. Lágrimas grossas escorreram por seu rosto. Um soluço contido pôde ser ouvido.

- O que fizemos conosco? O que estamos fazendo aqui? Por que nos agredimos desta maneira?

- Será mesmo que você não sabe a resposta, querida?

- Como eu poderia saber?

- Olhando dentro de si mesma, do nosso relacionamento. Será que minhas atitudes não foram apenas um reflexo de suas próprias atitudes? Será que a minha distância não é fruto de sua própria frustração? Ou será que, pela primeira estamos dando forma aos monstros que há anos vêm crescendo dentro de nós e sempre procuramos escondê-los nos mais desconhecidos recantos de nossa alma? Quantas vezes fomos verdadeiros um com o outro e consigo próprio como estamos sendo agora?

- Creio que tenha razão. Mas estamos nos machucando, estamos nos magoando acima do limite do aceitável. Eu não estou mais me reconhecendo nem a você.

- Nem eu minha querida, simplesmente porque agora estamos colocando para fora o que realmente somos ou o que realmente nos tornamos. Eu continuo te amando e te querendo a meu lado. Mas como já disse, a escolha é sua e te apoiarei na decisão que tomar, mas que fique claro: você vai, mas as crianças ficam. Não seria justo tirá-las do mundo que elas conhecem para entrar num mundo cuja realidade não condiz com a deles. Já está na hora de começar o treinamento dos garotos, já passou da hora, esta é a verdade, mas nunca quis que eles saíssem debaixo de suas saias. Esse é o destino deles, como foi o meu e o seu. Não tente se enganar. Não creia que vai se adaptar ao mundo. Você, mesmo nunca tendo usado armadura, é uma amazona de Athenas, tanto que é capaz de reconhecer meu cosmo e saber que não estava sozinho e que não era um homem que estava comigo.

- Será que temos chance de resgatar nossa felicidade?

- Se estivermos dispostos a ceder, perdoar e mudar, eu creio que sim.

- Eu ainda te amo, meu Dragão!

- Eu ainda te amo, minha pequena!

Eles se agarraram num beijo desesperado. Sentimentos dos mais contraditórios estavam todos ali, misturados. Ciúme, amor, paixão, desejo, medo, tudo impresso em um único beijo. Um único ato para expor e expurgar toda a mágoa. Beijaram-se até que o fôlego acabasse. Beijaram-se como se fosse a primeira vez e também como se não houvesse amanhã. O momento tornou-se mágico. Único. Indecifrável e indescritível dentro de si mesmo.

As blusas começaram a ser arrancadas, os sapatos jogados a esmo. As mãos percorriam os corpos como se nunca tivessem sido tocados. Com euforia, com pressa, desajeitadamente. As calças rasgaram-se, não havia tempo para soltar botões. Não era possível controlar tanto desejo. Amaram-se ali, no chão da tosca cozinha como dois adolescentes descobrindo o primeiro e único amor.

E estavam realmente redescobrindo-se, redescobrindo o amor e, pela primeira vez em muitos anos, fizeram amor, fizeram sexo. Natural, gutural, seco e definitivamente prazeroso. Quem estava de fora, ouviu ainda algumas cadeiras caindo, copos quebrando. Mas ele não estava sendo alvo da louça! Apenas a volúpia do momento fazia com que movimentos desajeitados em uma pequena cozinha quebrassem coisas.

O mundo tremeu. A terra tremeu pela força do amor deles.

Kiki permanecia sentado no terraço da casa de Áries. Assim como seu mestre Mu, gostava muito de passar seu tempo livre naquele terraço sentindo a brisa da montanha bater em seu rosto.

Ótimo lugar para pensar na vida.

Se tornara um cavaleiro forte. Honrava a sagrada armadura de Áries. Mu fizera um bom trabalho consigo, mas ainda era imaturo. Nessas épocas de paz, sobrava muito tempo para filosofar. Ouvira toda discussão de Shiryu e sua esposa. Pudera pensar muito a respeito do assunto e, realmente, todo casamento acabava assim, erros e acertos, agressões e brigas que fatalmente terminavam na cama, nos cosmos explodindo. Não sabia dizer com relação ao restante da humanidade, mas naquele microcosmo do Santuário, todos os casamentos acabavam assim e reconstruíam-se assim, como as próprias colunas dos templos, tantas vezes destruídas em batalhas mortais e novamente levantadas, cada vez mais belas, pelos cosmos da Deusa e de seus ocupantes.






Frase do dia

"Se você consegue aprender através
dos duros golpes, você também consegue aprender pelos suaves toques.
"
( Carolyn Kenmore )




Observação da Autora: Eu tenho a nítida impressão de que está faltando alguma coisa nessa fic, mas decidi não alterar o seu conteúdo, apenas corrigi eventuais erros gramaticais que consegui encontrar. Se alguém se der ao trabalho de ler até aqui e quiser comentar ou complementar, eu agradeço.

Abraços

Athenas de Áries