Lei de Murphy - Cap. IV
O confronto
Ao encontrar Mu, Shaka correu até ele sem preocupar-se com mais nada a sua volta. Ajoelhou-se e segurou o corpo adormecido de Mu em seu colo. Nada falou além do chamado desesperado. Seu coração estava despedaçado com a cena que tinha diante de seus olhos. Acariciou os sedosos cabelos lavanda. Ainda silenciosamente tirou o manto que tinha sobre o sari e cobriu a nudez do amado. Olhou as doze casas com rancor. Havia entregue sua juventude, sua vida e agora que encontrava a felicidade ela era novamente arrancada de si. Não importava quem ou o quê havia feito aquilo com Mu, iria pagar caro, muito caro.
Levantou-se com o ariano em seu colo e começou a subir as escadarias. Os cavaleiros que guardavam as casas de Touro, Câncer, Gêmeos e Leão olharam curiosos para a cena. Shaka subindo as escadas com Mu adormecido enrolado apenas em um manto, Shun e Hyoga silenciosamente atrás. Mu estaria morto? Apesar da curiosidade nenhum deles tivera coragem de emitir um único som. Nada. Apenas respeitoso silêncio.
Shaka depositou Mu com suavidade em sua cama, acendeu um incenso de sândalo e saiu do aposento. Shun e Hyoga esperavam ansiosamente pelas decisões de Shaka, mas respeitavam seu momento e sua dor, aguardando no salão da casa de Virgem.
- Shun, Hyoga, comuniquem a Athena minha chegada e também o aparecimento de Mu. Digam a ela que solicito sua presença em minha casa.
- Mestre, Mu está ... – Shun não sabia como obter a resposta crucial.
- Morto? Não! Meu amado está apenas adormecido, enfeitiçado.
- Por Zeus! Sabe como desfazer o feitiço, Shaka?
- Creio ser apenas uma questão de tempo, Hyoga. Só não faço idéia de como ele irá acordar. Por favor, façam o que eu pedi.
Shun e Hyoga retiraram-se sem mais demora em direção ao décimo terceiro templo levando o recado de Shaka. Estavam apreensivos, o que poderia estar ocorrendo afinal? Shun, enquanto subia as escadas, pensava nas lutas passadas. Nunca vira um poder assim, pois Mu não parecia ter lutado. O que derrubaria um cavaleiro forte como ele sem luta? E por que ele não fora morto? Lembrou-se de Camus. Ele havia dito que tinha uma sensação de que ainda haviam segredos e Shun agora, mais que nunca, tinha certeza absoluta disso. Sacudiu a cabeça e balançou os cachos verdes tentando espantar os pensamentos funestos. Tudo seria esclarecido em seu devido tempo. Assim seria.
Saori recebeu o recado de Shun e desceu as escadas em uma correria desabalada. Então era tudo verdade. Chagou ofegante à casa de Virgem entrando de maneira atabalhoada.
- Pode ficar tranqüila, Athenas. Mu está fisicamente bem e ainda adormecido. Temos muito tempo para conversar. Sente-se. Aceita um chá?
Saori sentou-se em uma almofada indicada por Shaka e aceitou o chá com um aceno de cabeça. Precisava de tempo para regularizar a respiração e tentar ordenar um pouco as idéias.
- Shaka, desculpe-me. Preciso contar-lhe o que está acontecendo.
- Poupe seu fôlego. Já sei o que está acontecendo.
- Shun...
- Por favor, Saori, chega! Eu sei que és Athena, que devemos a você toda lealdade e obediência, porém, se ele nada me contasse, eu não viria. Vamos deixar hierarquias e ordens fora dessa casa.
- Shaka! Eu tive meus motivos para ordenar o que ordenei. Eu queria evitar exatamente este rancor, este ódio que posso claramente ver que está dominando seu coração.
- De que maneira Saori? – Shaka perdeu o controle e gritou, com toda a fúria que o dominava. Não mais se importava se estava falando com uma Deusa ou com uma colegial – Como eu poderia perdoá-la se tirou Mu de mim? Que loucura é essa? Que segredos são esses? Por que eu? Que merda!
- Se você me ouvir talvez consiga entender.
- Não creio, mas vá em frente.
- Shaka, o que você sabe a respeito das “Entidades da Floresta Sangrenta” ?
- Por Buda! São eles?
- Sim.
- Mu... um lemuriano... – Shaka se calou, fechou novamente os olhos, abertos no momento do desespero. – Entendo, mas, porra, porque diabos não me disse nada?
- Eu não tinha certeza. Mu tinha ido com ordens apenas de se certificar. Precisava saber se eram realmente eles. Se fossem, como podemos agora ver que são, ele seria o único que não correria risco de morte.
- E o Shion?
- Deve estar chegando a qualquer momento.
- Então essa história de mandar a mim e ao Máscara foi um engodo?
- Sim, eu precisava ganhar tempo.
- Você está se mostrando uma boa estrategista.
- Tenho bons mestres. Mas estou sofrendo muito. Tem idéia do quanto já sofri e já me culpei pelo que fiz a você? Por favor, Shaka, quando tudo ficar bem não culpe Mu. Se ele tivesse contado a você, você o deixaria ir sozinho?
- Óbvio que não! – depois de responder Shaka calou-se, olhou para Saori e começou a rir – Mu está me conhecendo bem demais. Mas agora ele está enfeitiçado e até que ele acorde não temos como saber o que aconteceu.
De repente ambos ouviram um barulho vindo do quarto de Shaka, correram para o aposento e encontram um abajur quebrado no chão e um Mu assustado debaixo da coberta.
- Mu, você está bem?
- Desculpe foi sem querer!
- Claro, eu sei meu querido. Só quero saber se você está bem.
- Estou tio. Onde eu estou? Quem é você? E aquela tia bonita ali, quem é?
- Tio! Tia! Mu o que aconteceu com você?
- Comigo? Eu to com fome, tio! E To com frio também. Vem brincar comigo? – um começou a bater palmas e brincar com os próprios dedos.
Shaka ficou olhando para seu companheiro de lutas e de vida reduzido a uma criança sem entender absolutamente nada. Saori não resistiu e começou a rir.
- Saori quer ficar quieta! Você não percebe o tamanho do problema?
- Claro, Shaka, mas ele não é uma gracinha?
- Saori!
- Tio, me dá comida! – Mu levantou-se sem se importar com a própria nudez e começou a puxar o cabelo de Shaka pedindo comida.
- Mu, comporte-se! Vá colocar uma roupa enquanto preparo algo para comermos. Você me ouviu?
- Sim, Tio, já vou. Onde tem roupa pra mim?
Shaka entregou um sari ap "garoto" e foi para cozinha preparar alguma refeição.
- Ninguém merece isso, Buda, me perdoe, devo ter feito algo muito errado para merecer um castigo desse. Tudo está errado! Tudo está dando muito errado. Uma deusa adolescente que começa a despertar a divindade e se acha a “estrategista”, um bando de entidades sanguinárias e malucas a solta, aquele que poderia controlá-las reduzido a um bebê e o outro sumido no mundo... o que mais poderia me acontecer?
Mal terminou de falar, Shaka esbarrou na xícara de chá que caiu ao chão espatifando-se e espirrando líquido fervente em suas pernas.
- Pronto, espero que agora não falte mais nada...
- Tio Shaka, onde tem banheiro? – entrou Mu torcendo as pernas.
- Venha, Muzinho, vou te levar lá... – não deu tempo, Mu deixou escapar um enorme jato sujando toda cozinha.
- Argh! Merda! Merda! Merda! Maldita hora que fui ouvir o Shun. – mal Shaka acabou de praguejar, teve uma idéia genial – Shunzinho meu discípulo querido, vamos ver se você conseguiu desenvolver sua serenidade, hehehehe, venha Mu vamos tomar um banho.
Shaka deu banho em Mu, tarefa que não foi muito complicada por conhecer bem aquele corpo, e depois deu a ele uma nova roupa, limpa.
- Venha Mu, quero te apresentar o Tio Shun, ele vai brincar um pouco com você.
- Eu não quero sair... – o ariano fez beiço e ameaçou um choro.
- Mu de Jamiel! Não seja mal-criado, venha! – Shaka levou-o em direção ao templo do mestre onde os bronzeados estavam hospedados.
"Pelo menos lá tem o pangaré, ops, o Pégasus, que deve ter a mesma idade que o Mu tem agora, acho que vão se dar bem. Pobre Shun e Shiryu, vão ter mais uma criança para tomarem conta. Shaka, meu velho, hoje você está demais, mas também depois de tudo que aconteceu, eu bem que mereço uma boa noite de sono."
Ao chegar ao templo do mestre, depois de driblar a curiosidade de todos, Shaka encontrou Shion que acabara de chegar ao Santuário.
- Shaka, Mu, fico feliz ao ver que estão bem.
- Tio, quem é esse com essas pintas esquisitas?
- Se eu fosse você, Shion, não ficaria tão feliz...
- O que está acontecendo por aqui?
- É uma longa história... uma longa história...
Uma rápida olhada para o antigo discípulo fez Shion juntar os pontos típicos de sua raça, em uma expressão visivelmente preocupada. Mu estava indisfarçavelmete diferente. Shaka não conseguia conter sua irritação. Ele, em geral, era um homem de temperamento difícil, mas parecia que estava em ponto de ebulição, sem a característica serenidade. Além disso ele, Shion, fora chamado com urgência ao Santuário sem explicação alguma. Suspirou. Esperava que Athena esclarecesse o mais rápido possível o motivo de tanta agitação no Santuário.
Pensamento do Dia
"A única coisa boa na segunda-feira é ser o dia mais longe da próxima segunda-feira."
Autor Desconhecido