Lei de Murphy V
As confusões só começaram
Shion segurou Shaka pelo braço para que ele contasse tudo que acontecera. Shaka começou a rir.
- Tenho problemas demais e tempo de menos para te contar a longa história. Pergunte a Saori, ela sabe de tudo e poderá te explicar mais amiúde.
Pegou Mu pelo braço e foi arrastando-o para dentro do templo do grande mestre, deixando Shion parado com cara de bobo. Shaka riu. Era uma pequena vingança, um pequeno prazer. Poderia parecer bobagem, mas tinha gostado de ver Shion com cara de pateta. Em parte, ele era culpado por tudo que estava acontecendo consigo e com Mu. Por que ele havia sumido? Onde ele estava na hora que mais precisavam de um lemuriano? Agora ele que se virasse com Athena. Levou Mu para os jardins do templo do mestre onde sabia que encontraria os meninos de bronze. Realmente eles lá estavam jogando uma "pelada". Mu quando viu a bola rolando imediatamente ficou em estado de êxtase. Uma criança e uma bola são duas coisas quase que inseparáveis.
- Tio, posso jogar. Só um pouquinho... Deixa, vai...
- Claro que eu deixo mais você tem que pedir para os meninos...
Mu foi para o meio da roda e começou a gritar...
- Deixem eu jogar um pouco!
Os garotos de bronze nada entenderam. O que estaria acontecendo com o cavaleiro de Áries? De qualquer forma não pararam muito para discutir, imediatamente passaram a bola para o ariano. Mu chutou desajeitadamente, a bola tomou um rumo completamente diferente do pretendido por ele. O "garoto" olhou para o gol desejando que a bola fosse naquela direção e como por um milagre a bola foi. Shaka ao ver o acontecido colocou as mãos sobre o rosto e murmurou para si mesmo:
- Agora fudeu de vez. Ele não tem nanhuma lembrança e nenhuma maturidade mas conserva todos os seus poderes. Nem os deuses sabem o que pode ser de nós agora. Eu não mereço isso! Decididamente eu não mereço. - acabou de resmungar e gritou por Shun.
- Mestre, o que houve com Mu?
- Boa pergunta. A pergunta que não quer calar. Ainda não sei e preciso pensar sobre isso. O máximo que posso afirmar é que ele não lembra nada sobre nós e está agindo como um bebê. Preciso que vocês fiquem tomando conta dele, enquanto eu pesquiso uma solução para nosso problema.
- Claro mestre. Cuidarei de Mu para o senhor. Pode ficar tranquilo.
- Ele está sob seus cuidados agora. Voltarei para meu templo e irei meditar. Por favor, Shun, só me incomode se for de extrema urgência. Peça a Saori que converse com Shion a respeito de tudo que está acontecendo. Talvez ele tenha alguma solução.
- Farei o que me pede.
- Obrigado Shun, sabia que podia contar com você.
Shaka voltou para seu templo, estava realmente preocupado com seu amado, porém precisava descansar e precisava também de um pouco de paz. Nada poderia resolver no estado de espírito que se encontrava. Arrumou metodicamente toda bagunça aprontada pelo "moleque", sentou em seu trono de Lótus e pôs-se a meditar. Desligou-se de todo o mundo exterior a procura do nirvana. Precisava urgentemente estar em sintonia com seu mestre Buda e com todas as forças da natureza para que pudesse enfrentar os perigosos inimigos que sabia ter pela frente.
Enquanto isso Mu ficou "hospedado" no templo do mestre. Shun já se arrependera amargamente de ter aceitado a incumbência de Shaka. Primeiro foi o jogo de futebol frustrado, porque o moleque direcionava todas as bolas para o gol e quando ela não estava nos pés dele, ele "chamava" a bola para si. Depois foi a hora do lanche. Estavam todos na cozinha e o "Muzinho" gritava:
- Tio, tô com fome, quero leite, quero pão de milho e requeijão...
- Mas só tem pão com manteiga. Trata de comer moleque! - Shun perdera a pouca paciência que ainda restava.
- Eu não gosto de manteiga... - e o berreiro estava armado.
- Bom, se você não quer manteiga pode ficar com fome mesmo.
- Tá bom, me dá um pouco disso mesmo... - Mu enfiou todo o pão na boca com a cara mais emburrada do mundo.
Será que Shion agüentou isso quando ele era aprendiz? Precisamos com urgência arrumar um mestre pra esse moleque. Shun chamou Saori para conversar. Ele sozinho não daria conta de Mu. Nunca antes cuidara de uma criança e ainda mais uma criança tão cheia de vontades.
- Saori, não sei mais o que fazer com Mu. Preciso de ajuda.
- Chame Shaka.
- Mas foi ele mesmo que deixou Mu sob meus cuidados. Creio que o mestre está estressado e confuso com tudo que está acontecendo, e em última instância Mu é sua responsabilidade.
- O que você está querendo dizer, Shun?
- Nada, nada, esquece.
Shun voltou para o jardim, onde havia deixado Mu. Neste momento ele encontrava-se brincando com algumas flores.
- Tio, você conhece o nome de todas essas flores?
- De algumas. Você gosta de flores?
- Eu acho elas bonitas. Mas não conheço. Na verdade, nem sei como cheguei aqui. Nem sei quem são vocês, mas vocês são legais.
- Você está no Santuário da Deusa Athena. Nem nós sabemos como você chegou aqui, mas gostamos de você.
- Bom.
- Você lembra de alguma coisa antes de chegar aqui?
- Lembro de uma gruta e uma tia muito bonita que me colocou no colo dela. Depois eu dormi e acordei aqui.
- E você está gostando daqui?
- A comida é ruim. Mas estou gostando sim.
Shun não pôde deixar de rir. Levantou-se e chamou pelo moleque.
- Está na hora de irmos pra cama, estou muito cansado e já passou da hora de dormir.
- Mas eu não quero dormir. Estou sem sono.
- Por Zeus, Mu, a lua já vai alta há muito tempo. Vamos, não discuta.
- Mas eu não quero.
Mu empurrou Shun que voou alguns metros e caiu sentado. Ele tinha a força de um cavaleiro e não sabia como controlá-la. Precisava tomar alguma providência antes que alguém se ferisse feio. Ele mesmo, se não fosse um cavaleiro, estaria com problemas sérios. Levantou-se e preparou-se para chamar a atenção do mal-educado.
- Mu, preste bem atenção. Nunca deve bater nas pessoas, principalmente nas pessoas mais velhas. Isso não é certo, se fizer de novo, vou ter que te colocar de castigo e amanhã nada de jogo de bola. Fui claro.
- Sim, tio. Desculpe, foi sem querer.
- Você tem que aprender a controlar a sua força. Amanhã vou começar a te ensinar isso. Agora vamos dormir sem mais discussões.
- Ta bom. – Mu emburrou a cara, mas seguiu Shun.
Shun já estava no limite de sua paciência e de sua força física. Levou Mu para uma suíte que havia sido preparada pelas servas de Saori. O ensinou a escovar os dentes, escovou seus longos cabelos lavanda os prendendo em uma trança e colocou-o na cama.
- Tio, posso te pedir uma coisa?
- Que foi agora? Estou muito cansado. Preciso tomar o meu banho para dormir.
- Tudo bem, deixa pra lá.
- Fale. Já começou agora fale. Verei se posso te ajudar.
- Só queria pedir para você me contar uma história que me ajudasse a dormir. Você parece saber tantas.
Shun ficou desnorteado. Toda sua prevenção e seu cansaço foram imediatamente esquecidos. A doçura e a carência do "pequeno" Mu amoleceram seu coração que já era de manteiga mesmo. Achou que era uma boa idéia contar para Mu sua própria história, quem sabe não despertasse algo em sua memória. Mas que parte ele contaria? Achou melhor falar sobre o cavaleiro que era capaz de consertar armaduras e ajudou a cinco cavaleiros de bronze a não morrer em uma batalha cruel. Sentou-se na cama e deixou que Mu deitasse em seu colo. Sentiu saudades de Hyoga. Não via a hora dele mesmo recostar a cabeça no colo de seu amado.
Fazia cafuné na cabeça de Mu enquanto ia contando um pouco do passado do Santuário e deles mesmos com voz suave e cadenciada. Em poucos minutos ouviu o ressonar suave e percebeu que o cavaleiro estava completamente adormecido. Um anjo. Ele não podia ser sempre assim? Colocou suavemente a cabeça do ariano sobre o travesseiro e foi para seu próprio quarto. Precisava descansar, precisava dos braços de Hyoga. Fora um longo dia e o dia seguinte prometia ser pior.
Mu realmente dormiu profundamente, mas durante a noite seu sono começou a se agitar. Tinha sonhos estranhos incompreensíveis e acordou gritando. Desnorteado e com medo já havia arremessado todos os objetos que encontrara pelo quarto longe. Parecia uma cena de possessão. Tudo voando desordenadamente pelo quarto. Todos foram acordados com o barulho e correram para o quarto, assustados com todo o barulho. Saori rapidamente foi pedir ajuda a Shion.
- Só você pode controlar Mu. Por favor, nos ajude!
Shion, já acordado por toda a confusão, correu para o quarto onde estava o pupilo. Usou seu grande poder de telecinese para fazer com que tudo que voava aterrissasse. Enquanto isso Saori correu para a cama e abraçou Mu, tentando acalmá-lo para que nada pior acontecesse.
- Calma, meu querido, já passou. Tudo está bem agora, foi só um sonho mau. Calma, você está seguro aqui.
- Tia, tinha uns homens com armaduras estranhas querendo me matar. Fiquei com tanto medo...
- Foi só um sonho mau, ninguém quer te ferir ou matar aqui.
- Será que você poderia dormir aqui comigo? Estou com medo!
Seiya olhou de cara feia. Se Saori ficasse com Mu quem ia ter sonhos maus era ele.
- Saori. Vamos para cama! Ele já passou da idade de dormir com a Tia.
- Eu vou fazer o que eu achar certo! Fique quieto Seiya, não piore as coisas! – Saori começou a se irritar com a insensibilidade do cavaleiro de Pégasus.
Mu olhou com raiva para o cavaleiro de Pégasus. Queria que aquele chato sumisse. De repente se viu uma grande luz dourada. Shion só teve tempo de gritar para Seiya evaporar antes de se ouvir uma grande explosão e uma parede destruída.
- Mu, por favor, se acalme. Eu vou ficar aqui com você. Não vou a lugar nenhum.
- Obrigado. – ele deitou-se e se abraçou a deusa, em pouco tempo dormia novamente. O cosmo quente de Saori o havia acalmado e consolado.
No dia seguinte Shion e Saori juntos resolveram visitar o templo de Shaka. Precisavam dele. Não conseguiam nada com Mu, apenas Shun tinha algum mínimo controle sobre o "garoto". O templo do mestre já estava parcialmente destruído com as crises de medo ou nervoso de Mu. Shion tentou ensinar um pouco de controle mas foi rejeitado. Não sabia como lidar com Mu. Quando ele era realmente pequeno e era seu pupilo, fora relativamente fácil, se impunha pelo medo. Além disso, ele tinha o objetivo de ser cavaleiro. Fora doutrinado para isso desde que nascera. Agora não. Tudo era diferente. Não sabia o que fazer.
Quando chegaram a Virgem, Shaka ainda meditava. Saori elevou seu cosmo chamando pelo cavaleiro. Quando Shaka saiu de sua meditação seu mau humor era indescritível.
- Espero que vocês tenham um bom motivo para quebrar minha concentração.
- Precisamos de sua ajuda! Não sabemos mais o que fazer com Mu.
- E eu com isso? Você criou esse problema! Resolva!
- Shaka, mais respeito!
- Respeito? Você só pode estar brincando comigo. Eu realmente não estou com ânimo para brincadeiras. Minha vida se transformou em caos por conta de suas estratégias. Agora eu tenho que resolver a sua vida? Minha obrigação é te proteger!
- Então me proteja de Mu.
- Com medo de crianças Saori?
- Com medo de uma criança muito poderosa que está completamente fora de controle e já destruiu minha casa toda.
Shaka não pôde fazer mais nada. A forma como as coisas tinham sido colocadas o forçava a envolver-se novamente. Seu coração estava sangrando. Sentia dor. Sentia medo. Sentia falta de Mu, do Seu Mu. E sentia-se acima de tudo impotente. Tantos sentimentos escondidos dentro de si eram extravasados em forma de péssimo humor, ironia e aparente descaso. Era a sua defesa. Mas agora precisava enfrentar novamente o problema de frente e não sabia como agir. Será que Camus havia descoberto algo em suas pesquisas? O francês era bom nisso.
- Irei para o templo em pouco tempo. Antes apenas falarei com Camus. Preciso saber como estão suas pesquisas. Não me demorarei, senhora.
- Obrigada, Shaka. Sabia que podia contar com você.
- Por favor, me poupe de ironias. Você não é uma especialista nisso.
- Credo! Você está mais azedo que limão estragado.
- Você definiu bem meu estado de espírito, então por favor, deixe-me apenas fazer meu trabalho! – Shaka fez questão de frisar a palavra trabalho.
Precisava de um banho e de comer algo, meditara por quase um dia inteiro. Banhou-se com calma, lavando com cuidado seus longos cabelos louros, colocou um sari leve e confortável, sabia que seu dia seria longo e desgastante. Comeu algumas torradas com geléia de amoras e uma xícara de chá. Estava pronto. Saiu de seu templo subindo as escadarias em direção ao templo de Saori, mas antes faria a escala em Aquário.
Quando chegava em Aquário, viu um Camus esbaforido com um livro empoeirado e velho nas mãos.
- Shaka que bom encontrá-lo, ia a sua procura.
- Novidades?
- Sim.
- Boas?
- Não sei... Entre, vamos conversar.
Shaka entrou em Aquário e se acomodou em uma cadeira, receoso. O Camus teria a dizer? Será que ele descobrira o que estava acontecendo com Mu? Aguardou que o outro começasse a falar.
- Como sabe, desde que Saori nos falou sobre as entidades comecei a fazer uma pesquisa sobre elas. Não encontrei muita coisa a princípio. Estava quase perdendo as esperanças quando encontrei este livro perdido na biblioteca.
- E o que ele nos esclarece?
- Bom, na verdade não é bem um livro, é uma espécie de diário de um lemuriano que lutou em outras épocas com estas mesmas entidades. Algumas coisas ainda não consegui traduzir, está em uma língua praticamente morta e os dicionários que temos dela não são muito completos. Muitas expressões estou tendo que traduzir pelo sentido e isso acaba atrasando o trabalho. Mas aparentemente, segundo o que consegui entender, este cavaleiro que lutou contra eles presenciou uma situação parecida com a que Mu está passando e identificou um feitiço utilizado por eles capaz de tirar a memória das pessoas. Ele descreve como foi feito para reverter este feitiço, mas está muito confuso. Preciso de ajuda, ainda não consegui encontrar um sentido lógico para tudo, mas fala alguma coisa, repetidas vezes, sobre o amor incondicional como sendo a chave de tudo.
- Amor incondicional, isso é tão vago... Como utilizá-lo? Como fazer? Que tipo de amor? Pai/filho, amigo/amigo, amantes?
- Não sei, como disse, está um tanto confuso, já me fiz essas perguntas mas ainda não consegui as respostas.
- Cada vez mais confuso. Está tudo cada vez mais confuso. Pelo menos já sabemos que este feitiço ou seja lá o que for, já foi utilizado alguma vez e que existe uma maneira de neutralizá-lo. Já demos um grande passo. Obrigado meu amigo. Por favor, continue seu trabalho. Vou conversar com Shion e ver se ele pode ajudá-lo. Tenho que ir cuidar de Mu. Ele está incontrolável segundo Saori e ela me escalou para dar um jeito na bagunça.
- Seria cômico se não fosse trágico. Bom trabalho Shaka... – Camus controlou o riso ao mirar a cara de desânimo do outro.
- Você tem andado demais com Milo. Está ficando muito engraçadinho.
Camus apenas riu. Não tinha o que falar. Sabia que no fundo Shaka tinha razão. O viu sair de seu templo apressado em direção a sala do mestre. Sentiu pena deles, mas não era hora de filosofar. Pegou o mofado exemplar e se preparou para retornar ao exaustivo trabalho de tradução. Era o que podia fazer agora para ajudar.
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