Lei de Murphy - Cap. VI
A nova reunião dourada, ou as coisas começam a melhorar...
Tudo estava complicado no Santuário. O aparecimento de um Mu criança e ainda assim poderoso tinha deixado as coisas realmente de pernas para o ar. Shaka estava compenetrado em tentar controlar o pequeno e decifrar junto a Camus o que seria essa história de "amor". Seu humor não andava dos melhores.
Enquanto isso, nas planícies asiáticas Liu e seus ajudantes continuavam a se alimentar. A cada dia novas notícias apareciam nos jornais a respeito de mortes estranhas e cruéis. Alguns países já estavam enviando seus serviços de inteligência, mas nada conseguiam descobrir, não existiam pistas, apenas corpos. Era como se o assassino sumisse no ar. Saori acompanhava tudo, não só pelos noticiários mas também pela rede de informações da Fundação. Estava cada vez mais preocupada. Resolveu convocar uma nova reunião dourada.
- Precisamos fazer alguma coisa. Temos que proteger e salvar o mundo. A cada dia eles estão mais poderosos. Estou com receio de que, daqui a pouco, nada mais possamos fazer.
- Saori, se você não percebeu, nem mesmo agora podemos fazer nada. – Shaka foi o primeiro a se manifestar. Achava aquela reunião mais uma perda de tempo.
- Não é bem assim, Shaka. Agora já temos mais informações. Sabemos quem são e o que podem fazer. Talvez consigamos traçar algum plano de ação, nem que seja para tentar frear um pouco esses assassinatos.
- Bom, sou todo ouvidos até que Mu resolva dar outro ataque. Que moleque mal educado! Prefiro a versão adulta.
- Creio que todos nós preferimos. Não estamos muito acostumados a lidar com crianças.
- Quero ver como vai ser quando a gente começar a ter filhos.
- Milo, se você não percebeu, a grande maioria de nós nunca vai ter filhos.
- Olha Afrodite, depois de tudo que eu já vi acontecer aqui, não duvido de mais nada...
Gargalhada geral na sala. Só mesmo Milo para ter uma tirada dessas. A grande maioria dos cavaleiros de ouro, depois de renascerem, acabou se envolvendo entre si. Poucos namoravam mulheres, então era impossível, se os relacionamentos continuassem, que viessem a ter filhos.
- Gente, acho melhor voltarmos ao nosso foco. O que faremos então? Alguém tem alguma sugestão? – Aldebaran gostava de reuniões sociais, mas naquele momento estava mais preocupado em tentar resolver o problema e voltar a sua vidinha pacata. Gostara da calma que se instalara após a guerra santa.
- Creio que se fossemos em dupla para a Ásia, poderíamos tentar descobrir onde eles se escondem seguindo o rastro das mortes e tentar, de alguma maneira salvar outras pessoas.
- Mas se forem pegos estarão mortos. Não pensou nisso Aiória?
- Pensei, mas juramos entregar nossa vida para salvar Athena e o mundo. O que é a nossa vida?
- Talvez tenha razão, mas quem iria? Como deixar o Santuário mais desguarnecido ainda? Já estamos sem o Cavaleiro de Ouro de Áries, ficaríamos ainda sem mais dois cavaleiros de ouro? Não seria uma loucura?
- Esperem, vocês estão esquecendo de mim. Sou um lemuriano, ainda sou um cavaleiro. Eu devo ir. Acredito que a Armadura de Áries ainda aceite meu comando na falta de Mu.
- Pensei que você nunca fosse se manifestar! Mas quem você levaria com você, Shion?
- O ideal seria você, Shaka, mas deve ficar aqui, onde é mais necessário. Penso em levar Dokho. Alguém tem algo contra?
- Seria a escolha ideal. Chame Dokho ao Santuário, eu sei que tem como falar com ele – até mesmo Saori já estava insinuando saber do relacionamento dos dois – e preparem juntos o detalhe da viagem. Camus, avançou na tradução do diário?
- Sim. Já tenho mais alguns dados. Posso passá-los diretamente a Shion.
- Faça isso, creio que podemos dar nossa reunião por encerrada agora.
- Sim. Temos muitas questões práticas. Não devemos perder tempo aqui. – Shaka foi o primeiro a levantar-se para sair.
O Cavaleiro de Virgem voltou para sua casa. Deixara Mu brincando no seu jardim e não sabia o que ele era capaz de aprontar sozinho. Shion seguiu Camus até a casa de Aquário para saber o que o cavaleiroconseguira descobrir.
- Veja bem, por tudo que eu consegui traduzir deste diário, a luta entre o antigo cavaleiro lemuriano e essas entidades foi bastante dura e ele não conseguiu mata-los, isso nós já sabíamos, apenas adormece-los. Eles precisam comer carne humana para repor suas forças depois de algum tempo adormecidos. Não podem matar lemurianos, mas podem utilizar-se de feitiços contra eles, como aconteceu com Mu. A força direta não funciona, afinal são seres aparentemente imortais. Deve-se evitar que eles comam, e se possível afasta-los da floresta onde moram, e nunca, nunca se deixar pegar. Eles só conseguem utilizar os feitiços se estiverem em seu esconderijo. Parece que são muito ligados a esse lugar, que é de lá que tiram a sua força. Se forem afastados deste esconderijo, ficam fracos e acabam adormecendo novamente.
- Mas de qualquer forma estaríamos empurrando o problema para uma outra geração.
- Creio que devemos a princípio tentar adormece-los e depois então pensar em como extermina-los de verdade e para sempre. Precisamos salvar Mu e as pessoas inocentes daquela região.
- É verdade. O que sugere?
- Que vocês façam um cerco de segurança evitando que pessoas circulem pela região onde os ataques tem acontecido. Isso os forçaria a ir mais longe para caçar. Assim, poderiam seguir seus passos e tentar descobrir onde é o esconderijo.
- Pensei também em um ataque frontal, apenas para deixa-los irritados e forçar um ataque ao Santuário. Longe de sua fonte de força e próximo da nossa fonte de força. O nosso território. Assim poderíamos dar cabo da "operação canceira".
- "Operação Canceira" que nome horrível. Prefiro "Operação Bela Adormecida".
- Que seja. Vou chamar Dokho e a Armadura de Áries.
- Vá. Boa sorte amigo.
- Obrigado.
Shion se retirou para o Templo de Áries, que estava vazio, e começou a meditar. Sentiu a Armadura de Áries responder a seu chamado. Uma aura dourada envolveu o templo e a urna se abriu. Shion pôde sentir a força da Armadura no momento que ela envolveu seu corpo. Seu discípulo havia realmente se tornado um grande cavaleiro e um grande armeiro. A armadura estava viva, forte. Podia sentir o poderoso cosmo de Mu em cada pedaço dela. Ele a havia restaurado com seu próprio sangue. Era uma operação perigosa, mas deixava a armadura muito mais viva e forte. Sentiu-se renovado, rejuvenescido. Pôs-se novamente a meditar e chamar por Dokho. Sentiu quando seu cosmo entrou em contato com o doce e amado cosmo do cavaleiro de Libra.
- Precisamos de você, meu amor. Venha até o Santuário o mais rápido possível. É realmente importante.
- Nunca poderia recusar um chamado seu e de Athena. Estarei ai em breve, me aguarde.
- Eu te esperarei para sempre.
Dokho não respondeu, mas sorriu. Shion seria sempre o seu eterno amor e por mais que muitas vezes ficassem por anos separados, nunca esqueceria aquele corpo, aquela voz, aqueles cabelos. Não via a hora de revê-lo. Preparou uma pequena mala e correu para o Santuário. Em pouco tempo já estava a frente do Templo de Áries. Elevou seu cosmo e pediu pressão para entrar. Sabia que Mu nunca impediria sua passagem, estranhou quando foi atendido pelo próprio Shion, utilizando a armadura de Mu.
- O que está ocorrendo aqui? Vai lutar novamente?
- Vamos lutar, meu querido, vamos lutar. Entre. Vou fazer um chá para nós dois enquanto te conto tudo que está acontecendo.
Mal Dokho acabou de entrar no Templo de Áries, viram Mu passar correndo com uma estátua de Buda flutuando na sua frente e sentiram o cosmo de Shaka irado vindo atrás. Logo puderam ouvir a voz do cavaleiro.
- Mu de Jamiel! Volte já aqui! Me devolva isso seu moleque mal educado!
- Você não me pega... lalalalalalalal – Mu parou e mostrou a língua para Shaka que armou um Tesouro do Céu para cima dele.
- Chega Shaka! Ele é só uma criança.
- E bem da mal educada. Dê um jeito nele então você. E trate de recuperar meu Buda inteiro! – Shaka parou e cruzou os braços esperando a reação de Shion.
Shion usou sua telecinese e recuperou a imagem de Shaka, devolvendo-a a ele. Depois levantou Mu do chão e o trouxe para perto de si.
- Que coisa mais feia, Mu! Onde já se viu pegar as coisas dos outros para brincar. Não foi isso que nós te ensinamos. Pode tratar de sentar ali de cara para a parede e pensar nas besteiras que está fazendo e se eu ver o que quer que seja voando dentro desta casa, você vai ter que se entender comigo. Fui claro?
- Sim, Tio, desculpe, mas é tão divertido deixar o Tio Shaka nervoso.
- Pois não é nada engraçado aborrecer ninguém. Trate de arrumar outra coisa com o que se divertir depois que sair do castigo! Agora vá! Sente-se lá e não ouse levantar até eu mandar!
Mu foi direitinho sentar-se de cara para a parede. Como uma criança educada.
- Uau! Gostei dos seus métodos, preciso pegar umas aulas com você.
- Esqueceu que ele já foi meu discípulo?
- Quer dizer que ele era atentado assim quando pequeno?
- Você nem faz idéia Shaka... Nem faz idéia, mas eu nunca seria capaz de machuca-lo ou fazer o que quer que seja com ele. Só que ele nunca soube disso. Meu filho puxou a mim. Eu também fui uma peste quando criança. Na realidade a gente só precisa de um pouco de autoridade e atenção.
- Que história é essa de filho? Mu nunca me falou nada a respeito.
- Ele nunca soube. Sempre achei melhor assim. Eu não gostaria de ter que falar sobre a mãe dele e muito menos sobre as condições que envolveram seu nascimento.
- Entendo, e não vou perguntar. Mas creio que quando ele voltar ao normal deveria contar a ele.
- Talvez. Não sei. Estou concentrado agora apenas em salva-lo. Entende agora que realmente sou o único que deve ir atrás deles? O que eles fizeram ao meu filho é imperdoável. Como você acha que eu me sinto vendo Mu assim?
- Não só você. Você não tem idéia do amor que sinto por ele. Culpo-me todos os dias por não ter estado junto a ele para protege-lo. Mu é o amor de minha vida, e a cada dia estou morrendo um pouco o vendo assim. Por isso ando tão nervoso. Tão irritado.
- Shaka, Mu agora é apenas uma criança sem referencial nenhum. Faz essas estripulias apenas para chamar atenção. Vá lá, converse com ele, abrace-o, dê carinho a ele e verá como ele ficará em suas mãos.
Shaka pensou por alguns instantes e aproximou-se de Mu que estava em outra sala ainda sentado olhando para a parede.
- Mu...
- Sim, Tio... Me desculpe, era só uma brincadeira.
- Eu sei, não vim aqui para brigar com você.
- Não?
- Não. Vim apenas para te chamar para ir comigo comer um sorvete. O que acha?
- Tio Shion deixou?
- Sim. Então, o que acha?
- Eu adoro sorvete! Pode ser um bem grande?
- Depende...
- Depende de quê? – Mu olhou desconfiado para Shaka.
- Depende da quantidade de beijos que você vai me dar.
Mu riu e pulou em cima da Shaka enchendo o rosto do cavaleiro de beijos molhados. Os dois rolaram pelo chão brincando. Shaka pensou consigo mesmo: o conselho de Shion havia sido perfeito. Talvez fosse bem mais fácil lidar com o pequeno Mu do que ele imaginara. Levantou-se e saiu correndo, gritando.
- Quem chegar por último ao Templo de Virgem vai ficar sem sorvete!
Os dois começam a subir as escadas numa correria desabalada. Shion olhou a cena e começou a rir. Talvez o pequeno Mu fizesse o sisudo e mal humorado cavaleiro de virgem encontrar um pouco da sua infância perdida. Nesse momento se lembrou de Dokho que olhava tudo que estava acontecendo com cara de bobo.
- Será que você pode me explicar tudo que acabou de acontecer nesta casa?
- Claro, sente-se, vamos ao nosso chá que a história vai ser longa.
- Imagino. – disse Dokho, sentando-se na cadeira indicada por Shion esperando calmamente a explicação. Depois de tudo explicado...
- Agora as coisas estão começando a fazer sentido. Então quer dizer que você me enfiou nessa rabuda?
- Com quem mais eu poderia contar?
- Ninguém, creio eu. E é lógico que eu o ajudarei a salvar seu filho.
- Eu sabia que poderia contar com você. – Shion esticoua mão e acariciou o rosto de Dohko com suavidade.
- Eu nunca seria capaz de recusar um pedido seu. Além do mais gosto muito de Mu, ele é um garoto especial, sempre foi. Shaka foi abençoado em tê-lo, assim como eu fui abençoado em ter você. Vamos trabalhar.
- Creio ser melhor descansarmos e partimos ao alvorecer.
- Que seja.
Shion e Dohko acabaram de tomar o chá e se recolheram aos aposentos particulares da casa de Áries. Descansariam sim, mas não antes de matar as saudades.
Enquanto isso, na casa de Virgem, Mu e Shaka atacavam um pote de sorvete a colheradas, sentados no chão, no meio do pátio da casa.
- Está gostoso?
- Delicioso, tio! Você está tão legal hoje! Prometo que não pego mais as suas coisas.
- Que bom! Você é um bom garoto. Amanhã vou começar a te ensinar como controlar melhor seu poder de levitar as coisas. O que acha?
- Vou poder pregar peças nos outros melhor?
- Mu! Os poderes que nos são dados pelos deuses não são para pregar peças ou brincar. São para ajudar as pessoas simples a ter uma vida melhor. Consegue me entender?
- Mas como o poder de levitar coisas pode ajudar alguém?
- Quer ver?
- Claro.
Shaka chamou a serva da casa de Virgem.
- Aisha, poderia por gentileza pegar o pote de biscoitos sobre o armário?
Aisha se esticou, pulou e não conseguoiu pegar o pote, quando ia pegar a cadeira para subir, Shaka usou seus conhecimentos de telecinese e fez com que o pote cheguasse as mãos da serva.
- Viu? Isso foi apenas um exemplo simples. Muito obrigado pela ajuda, Aisha!
- Sempre a disposição, Mestre Shaka. Peço licença para me recolher.
- Vá. Sei que trabalhou muito hoje. Descanse com os deuses.
- Obrigada, Mestre Shaka, com licença.
Mu olhava para tudo com olhos arregalados, espantado. Shaka era uma pessoa muito boa. Era chato demais às vezes, mas mesmo assim uma pessoa muito boa aos olhos inocentes dele.
- Tio, quer dizer que eu poderei ajudar as pessoas com os poderes que tenho?
- Claro! Eles nos são dados para isso.
- Você me ajuda?
- Lógico que sim. Que tal irmos dormir agora? Amanhã acordaremos cedo para começar a treinar.
- Vamos. Você conta uma história pra mim?
- Claro. Venha!
Mu deitou-se na cama destinada a ele por Shaka depois de colocar um pijama e escovar os dentes. Shaka sentou-se na beirada da cama com um livro na mão. Quando notou a cabeça de Mu já estava sobre suas pernas. Ele começou a contar a história enquanto acariciava o cabelo do "garoto". Em poucos momentos Mu já estava adormecido. Shaka começou a se lembrar de como dormiam juntos e de como Mu sempre gostou de adormecer sobre seu corpo.
De repente Mu começou a se agitar e a se debater na cama. De seus lábios saiam palavras desconexas, que aos poucos elas começavam a ter sentido e eram detalhes da batalha contra Hades. Será que ele estava lembrando de algo? Shaka não teve coragem de acordá-lo, mas o abraçou bem forte. Mu suava frio. Uma lágrima sofrida escorreu pelo rosto de Shaka e caiu sobre o rosto de Mu.
- Shaka, meu amor! Onde você está?
Shaka deu um pulo da cama quase derrubando Mu no chão. Será que ele havia lembrado dele? Quando Shaka pulou, Mu acordou assustado.
- Shaka, o que aconteceu? Tive uns sonhos estranhos... Me abraça por favor...
- Mu, você lembrou de alguma coisa? Antes de chegar aqui?
- Não sei, umas sensações estranhas.
Mu ainda não se lembrava de nada, mas já estava agindo com mais maturidade, podia ver isso nos olhos dele. Era como se tivesse crescido vários anos em alguns poucos minutos. Shaka lembrou-se do que Camus falara sobre o amor. Será que era isso? Tratá-lo com amor. Dar a ele todo amor que tinha em seu coração faria com que ele voltasse?
Shaka abraçou Mu novamente, elevou seu cosmo para acalmá-lo e acariciou seu rosto.
- Mu me desculpe se as vezes fico nervoso. Eu o amo muito.
- Eu não sei exatamente o que é o amor. Não consigo me lembrar de nada, não sei quem sou ou o que foi a minha vida, mas me sinto muito bem a seu lado, Shaka.
- Então ficará a meu lado pelo tempo que quiser.
- Sim, eu ficarei.
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