Recanto nem tão secreto de uma Ariana

Aceita um copo? Então sente-se, acomode-se e divirta-se.

27 fevereiro, 2010

Lei de Murphy - Cap. VI

A nova reunião dourada, ou as coisas começam a melhorar...

Tudo estava complicado no Santuário. O aparecimento de um Mu criança e ainda assim poderoso tinha deixado as coisas realmente de pernas para o ar. Shaka estava compenetrado em tentar controlar o pequeno e decifrar junto a Camus o que seria essa história de "amor". Seu humor não andava dos melhores.

Enquanto isso, nas planícies asiáticas Liu e seus ajudantes continuavam a se alimentar. A cada dia novas notícias apareciam nos jornais a respeito de mortes estranhas e cruéis. Alguns países já estavam enviando seus serviços de inteligência, mas nada conseguiam descobrir, não existiam pistas, apenas corpos. Era como se o assassino sumisse no ar. Saori acompanhava tudo, não só pelos noticiários mas também pela rede de informações da Fundação. Estava cada vez mais preocupada. Resolveu convocar uma nova reunião dourada.

- Precisamos fazer alguma coisa. Temos que proteger e salvar o mundo. A cada dia eles estão mais poderosos. Estou com receio de que, daqui a pouco, nada mais possamos fazer.

- Saori, se você não percebeu, nem mesmo agora podemos fazer nada. – Shaka foi o primeiro a se manifestar. Achava aquela reunião mais uma perda de tempo.

- Não é bem assim, Shaka. Agora já temos mais informações. Sabemos quem são e o que podem fazer. Talvez consigamos traçar algum plano de ação, nem que seja para tentar frear um pouco esses assassinatos.

- Bom, sou todo ouvidos até que Mu resolva dar outro ataque. Que moleque mal educado! Prefiro a versão adulta.

- Creio que todos nós preferimos. Não estamos muito acostumados a lidar com crianças.

- Quero ver como vai ser quando a gente começar a ter filhos.

- Milo, se você não percebeu, a grande maioria de nós nunca vai ter filhos.

- Olha Afrodite, depois de tudo que eu já vi acontecer aqui, não duvido de mais nada...

Gargalhada geral na sala. Só mesmo Milo para ter uma tirada dessas. A grande maioria dos cavaleiros de ouro, depois de renascerem, acabou se envolvendo entre si. Poucos namoravam mulheres, então era impossível, se os relacionamentos continuassem, que viessem a ter filhos.

- Gente, acho melhor voltarmos ao nosso foco. O que faremos então? Alguém tem alguma sugestão? – Aldebaran gostava de reuniões sociais, mas naquele momento estava mais preocupado em tentar resolver o problema e voltar a sua vidinha pacata. Gostara da calma que se instalara após a guerra santa.

- Creio que se fossemos em dupla para a Ásia, poderíamos tentar descobrir onde eles se escondem seguindo o rastro das mortes e tentar, de alguma maneira salvar outras pessoas.

- Mas se forem pegos estarão mortos. Não pensou nisso Aiória?

- Pensei, mas juramos entregar nossa vida para salvar Athena e o mundo. O que é a nossa vida?

- Talvez tenha razão, mas quem iria? Como deixar o Santuário mais desguarnecido ainda? Já estamos sem o Cavaleiro de Ouro de Áries, ficaríamos ainda sem mais dois cavaleiros de ouro? Não seria uma loucura?

- Esperem, vocês estão esquecendo de mim. Sou um lemuriano, ainda sou um cavaleiro. Eu devo ir. Acredito que a Armadura de Áries ainda aceite meu comando na falta de Mu.

- Pensei que você nunca fosse se manifestar! Mas quem você levaria com você, Shion?

- O ideal seria você, Shaka, mas deve ficar aqui, onde é mais necessário. Penso em levar Dokho. Alguém tem algo contra?

- Seria a escolha ideal. Chame Dokho ao Santuário, eu sei que tem como falar com ele – até mesmo Saori já estava insinuando saber do relacionamento dos dois – e preparem juntos o detalhe da viagem. Camus, avançou na tradução do diário?

- Sim. Já tenho mais alguns dados. Posso passá-los diretamente a Shion.

- Faça isso, creio que podemos dar nossa reunião por encerrada agora.

- Sim. Temos muitas questões práticas. Não devemos perder tempo aqui. – Shaka foi o primeiro a levantar-se para sair.

O Cavaleiro de Virgem voltou para sua casa. Deixara Mu brincando no seu jardim e não sabia o que ele era capaz de aprontar sozinho. Shion seguiu Camus até a casa de Aquário para saber o que o cavaleiroconseguira descobrir.

- Veja bem, por tudo que eu consegui traduzir deste diário, a luta entre o antigo cavaleiro lemuriano e essas entidades foi bastante dura e ele não conseguiu mata-los, isso nós já sabíamos, apenas adormece-los. Eles precisam comer carne humana para repor suas forças depois de algum tempo adormecidos. Não podem matar lemurianos, mas podem utilizar-se de feitiços contra eles, como aconteceu com Mu. A força direta não funciona, afinal são seres aparentemente imortais. Deve-se evitar que eles comam, e se possível afasta-los da floresta onde moram, e nunca, nunca se deixar pegar. Eles só conseguem utilizar os feitiços se estiverem em seu esconderijo. Parece que são muito ligados a esse lugar, que é de lá que tiram a sua força. Se forem afastados deste esconderijo, ficam fracos e acabam adormecendo novamente.

- Mas de qualquer forma estaríamos empurrando o problema para uma outra geração.

- Creio que devemos a princípio tentar adormece-los e depois então pensar em como extermina-los de verdade e para sempre. Precisamos salvar Mu e as pessoas inocentes daquela região.

- É verdade. O que sugere?

- Que vocês façam um cerco de segurança evitando que pessoas circulem pela região onde os ataques tem acontecido. Isso os forçaria a ir mais longe para caçar. Assim, poderiam seguir seus passos e tentar descobrir onde é o esconderijo.

- Pensei também em um ataque frontal, apenas para deixa-los irritados e forçar um ataque ao Santuário. Longe de sua fonte de força e próximo da nossa fonte de força. O nosso território. Assim poderíamos dar cabo da "operação canceira".

- "Operação Canceira" que nome horrível. Prefiro "Operação Bela Adormecida".

- Que seja. Vou chamar Dokho e a Armadura de Áries.

- Vá. Boa sorte amigo.

- Obrigado.

Shion se retirou para o Templo de Áries, que estava vazio, e começou a meditar. Sentiu a Armadura de Áries responder a seu chamado. Uma aura dourada envolveu o templo e a urna se abriu. Shion pôde sentir a força da Armadura no momento que ela envolveu seu corpo. Seu discípulo havia realmente se tornado um grande cavaleiro e um grande armeiro. A armadura estava viva, forte. Podia sentir o poderoso cosmo de Mu em cada pedaço dela. Ele a havia restaurado com seu próprio sangue. Era uma operação perigosa, mas deixava a armadura muito mais viva e forte. Sentiu-se renovado, rejuvenescido. Pôs-se novamente a meditar e chamar por Dokho. Sentiu quando seu cosmo entrou em contato com o doce e amado cosmo do cavaleiro de Libra.

- Precisamos de você, meu amor. Venha até o Santuário o mais rápido possível. É realmente importante.

- Nunca poderia recusar um chamado seu e de Athena. Estarei ai em breve, me aguarde.

- Eu te esperarei para sempre.

Dokho não respondeu, mas sorriu. Shion seria sempre o seu eterno amor e por mais que muitas vezes ficassem por anos separados, nunca esqueceria aquele corpo, aquela voz, aqueles cabelos. Não via a hora de revê-lo. Preparou uma pequena mala e correu para o Santuário. Em pouco tempo já estava a frente do Templo de Áries. Elevou seu cosmo e pediu pressão para entrar. Sabia que Mu nunca impediria sua passagem, estranhou quando foi atendido pelo próprio Shion, utilizando a armadura de Mu.

- O que está ocorrendo aqui? Vai lutar novamente?

- Vamos lutar, meu querido, vamos lutar. Entre. Vou fazer um chá para nós dois enquanto te conto tudo que está acontecendo.

Mal Dokho acabou de entrar no Templo de Áries, viram Mu passar correndo com uma estátua de Buda flutuando na sua frente e sentiram o cosmo de Shaka irado vindo atrás. Logo puderam ouvir a voz do cavaleiro.

- Mu de Jamiel! Volte já aqui! Me devolva isso seu moleque mal educado!

- Você não me pega... lalalalalalalal – Mu parou e mostrou a língua para Shaka que armou um Tesouro do Céu para cima dele.

- Chega Shaka! Ele é só uma criança.

- E bem da mal educada. Dê um jeito nele então você. E trate de recuperar meu Buda inteiro! – Shaka parou e cruzou os braços esperando a reação de Shion.

Shion usou sua telecinese e recuperou a imagem de Shaka, devolvendo-a a ele. Depois levantou Mu do chão e o trouxe para perto de si.

- Que coisa mais feia, Mu! Onde já se viu pegar as coisas dos outros para brincar. Não foi isso que nós te ensinamos. Pode tratar de sentar ali de cara para a parede e pensar nas besteiras que está fazendo e se eu ver o que quer que seja voando dentro desta casa, você vai ter que se entender comigo. Fui claro?

- Sim, Tio, desculpe, mas é tão divertido deixar o Tio Shaka nervoso.

- Pois não é nada engraçado aborrecer ninguém. Trate de arrumar outra coisa com o que se divertir depois que sair do castigo! Agora vá! Sente-se lá e não ouse levantar até eu mandar!

Mu foi direitinho sentar-se de cara para a parede. Como uma criança educada.

- Uau! Gostei dos seus métodos, preciso pegar umas aulas com você.

- Esqueceu que ele já foi meu discípulo?

- Quer dizer que ele era atentado assim quando pequeno?

- Você nem faz idéia Shaka... Nem faz idéia, mas eu nunca seria capaz de machuca-lo ou fazer o que quer que seja com ele. Só que ele nunca soube disso. Meu filho puxou a mim. Eu também fui uma peste quando criança. Na realidade a gente só precisa de um pouco de autoridade e atenção.

- Que história é essa de filho? Mu nunca me falou nada a respeito.

- Ele nunca soube. Sempre achei melhor assim. Eu não gostaria de ter que falar sobre a mãe dele e muito menos sobre as condições que envolveram seu nascimento.

- Entendo, e não vou perguntar. Mas creio que quando ele voltar ao normal deveria contar a ele.

- Talvez. Não sei. Estou concentrado agora apenas em salva-lo. Entende agora que realmente sou o único que deve ir atrás deles? O que eles fizeram ao meu filho é imperdoável. Como você acha que eu me sinto vendo Mu assim?

- Não só você. Você não tem idéia do amor que sinto por ele. Culpo-me todos os dias por não ter estado junto a ele para protege-lo. Mu é o amor de minha vida, e a cada dia estou morrendo um pouco o vendo assim. Por isso ando tão nervoso. Tão irritado.

- Shaka, Mu agora é apenas uma criança sem referencial nenhum. Faz essas estripulias apenas para chamar atenção. Vá lá, converse com ele, abrace-o, dê carinho a ele e verá como ele ficará em suas mãos.

Shaka pensou por alguns instantes e aproximou-se de Mu que estava em outra sala ainda sentado olhando para a parede.

- Mu...

- Sim, Tio... Me desculpe, era só uma brincadeira.

- Eu sei, não vim aqui para brigar com você.

- Não?

- Não. Vim apenas para te chamar para ir comigo comer um sorvete. O que acha?

- Tio Shion deixou?

- Sim. Então, o que acha?

- Eu adoro sorvete! Pode ser um bem grande?

- Depende...

- Depende de quê? – Mu olhou desconfiado para Shaka.

- Depende da quantidade de beijos que você vai me dar.

Mu riu e pulou em cima da Shaka enchendo o rosto do cavaleiro de beijos molhados. Os dois rolaram pelo chão brincando. Shaka pensou consigo mesmo: o conselho de Shion havia sido perfeito. Talvez fosse bem mais fácil lidar com o pequeno Mu do que ele imaginara. Levantou-se e saiu correndo, gritando.

- Quem chegar por último ao Templo de Virgem vai ficar sem sorvete!

Os dois começam a subir as escadas numa correria desabalada. Shion olhou a cena e começou a rir. Talvez o pequeno Mu fizesse o sisudo e mal humorado cavaleiro de virgem encontrar um pouco da sua infância perdida. Nesse momento se lembrou de Dokho que olhava tudo que estava acontecendo com cara de bobo.

- Será que você pode me explicar tudo que acabou de acontecer nesta casa?

- Claro, sente-se, vamos ao nosso chá que a história vai ser longa.

- Imagino. – disse Dokho, sentando-se na cadeira indicada por Shion esperando calmamente a explicação. Depois de tudo explicado...

- Agora as coisas estão começando a fazer sentido. Então quer dizer que você me enfiou nessa rabuda?

- Com quem mais eu poderia contar?

- Ninguém, creio eu. E é lógico que eu o ajudarei a salvar seu filho.

- Eu sabia que poderia contar com você. – Shion esticoua mão e acariciou o rosto de Dohko com suavidade.

- Eu nunca seria capaz de recusar um pedido seu. Além do mais gosto muito de Mu, ele é um garoto especial, sempre foi. Shaka foi abençoado em tê-lo, assim como eu fui abençoado em ter você. Vamos trabalhar.

- Creio ser melhor descansarmos e partimos ao alvorecer.

- Que seja.

Shion e Dohko acabaram de tomar o chá e se recolheram aos aposentos particulares da casa de Áries. Descansariam sim, mas não antes de matar as saudades.

Enquanto isso, na casa de Virgem, Mu e Shaka atacavam um pote de sorvete a colheradas, sentados no chão, no meio do pátio da casa.

- Está gostoso?

- Delicioso, tio! Você está tão legal hoje! Prometo que não pego mais as suas coisas.

- Que bom! Você é um bom garoto. Amanhã vou começar a te ensinar como controlar melhor seu poder de levitar as coisas. O que acha?

- Vou poder pregar peças nos outros melhor?

- Mu! Os poderes que nos são dados pelos deuses não são para pregar peças ou brincar. São para ajudar as pessoas simples a ter uma vida melhor. Consegue me entender?

- Mas como o poder de levitar coisas pode ajudar alguém?

- Quer ver?

- Claro.

Shaka chamou a serva da casa de Virgem.

- Aisha, poderia por gentileza pegar o pote de biscoitos sobre o armário?

Aisha se esticou, pulou e não conseguoiu pegar o pote, quando ia pegar a cadeira para subir, Shaka usou seus conhecimentos de telecinese e fez com que o pote cheguasse as mãos da serva.

- Viu? Isso foi apenas um exemplo simples. Muito obrigado pela ajuda, Aisha!

- Sempre a disposição, Mestre Shaka. Peço licença para me recolher.

- Vá. Sei que trabalhou muito hoje. Descanse com os deuses.

- Obrigada, Mestre Shaka, com licença.

Mu olhava para tudo com olhos arregalados, espantado. Shaka era uma pessoa muito boa. Era chato demais às vezes, mas mesmo assim uma pessoa muito boa aos olhos inocentes dele.

- Tio, quer dizer que eu poderei ajudar as pessoas com os poderes que tenho?

- Claro! Eles nos são dados para isso.

- Você me ajuda?

- Lógico que sim. Que tal irmos dormir agora? Amanhã acordaremos cedo para começar a treinar.

- Vamos. Você conta uma história pra mim?

- Claro. Venha!

Mu deitou-se na cama destinada a ele por Shaka depois de colocar um pijama e escovar os dentes. Shaka sentou-se na beirada da cama com um livro na mão. Quando notou a cabeça de Mu já estava sobre suas pernas. Ele começou a contar a história enquanto acariciava o cabelo do "garoto". Em poucos momentos Mu já estava adormecido. Shaka começou a se lembrar de como dormiam juntos e de como Mu sempre gostou de adormecer sobre seu corpo.

De repente Mu começou a se agitar e a se debater na cama. De seus lábios saiam palavras desconexas, que aos poucos elas começavam a ter sentido e eram detalhes da batalha contra Hades. Será que ele estava lembrando de algo? Shaka não teve coragem de acordá-lo, mas o abraçou bem forte. Mu suava frio. Uma lágrima sofrida escorreu pelo rosto de Shaka e caiu sobre o rosto de Mu.

- Shaka, meu amor! Onde você está?

Shaka deu um pulo da cama quase derrubando Mu no chão. Será que ele havia lembrado dele? Quando Shaka pulou, Mu acordou assustado.

- Shaka, o que aconteceu? Tive uns sonhos estranhos... Me abraça por favor...

- Mu, você lembrou de alguma coisa? Antes de chegar aqui?

- Não sei, umas sensações estranhas.

Mu ainda não se lembrava de nada, mas já estava agindo com mais maturidade, podia ver isso nos olhos dele. Era como se tivesse crescido vários anos em alguns poucos minutos. Shaka lembrou-se do que Camus falara sobre o amor. Será que era isso? Tratá-lo com amor. Dar a ele todo amor que tinha em seu coração faria com que ele voltasse?

Shaka abraçou Mu novamente, elevou seu cosmo para acalmá-lo e acariciou seu rosto.

- Mu me desculpe se as vezes fico nervoso. Eu o amo muito.

- Eu não sei exatamente o que é o amor. Não consigo me lembrar de nada, não sei quem sou ou o que foi a minha vida, mas me sinto muito bem a seu lado, Shaka.

- Então ficará a meu lado pelo tempo que quiser.

- Sim, eu ficarei.

24 fevereiro, 2010

Lei de Murphy V

As confusões só começaram

Shion segurou Shaka pelo braço para que ele contasse tudo que acontecera. Shaka começou a rir.

- Tenho problemas demais e tempo de menos para te contar a longa história. Pergunte a Saori, ela sabe de tudo e poderá te explicar mais amiúde.

Pegou Mu pelo braço e foi arrastando-o para dentro do templo do grande mestre, deixando Shion parado com cara de bobo. Shaka riu. Era uma pequena vingança, um pequeno prazer. Poderia parecer bobagem, mas tinha gostado de ver Shion com cara de pateta. Em parte, ele era culpado por tudo que estava acontecendo consigo e com Mu. Por que ele havia sumido? Onde ele estava na hora que mais precisavam de um lemuriano? Agora ele que se virasse com Athena. Levou Mu para os jardins do templo do mestre onde sabia que encontraria os meninos de bronze. Realmente eles lá estavam jogando uma "pelada". Mu quando viu a bola rolando imediatamente ficou em estado de êxtase. Uma criança e uma bola são duas coisas quase que inseparáveis.

- Tio, posso jogar. Só um pouquinho... Deixa, vai...

- Claro que eu deixo mais você tem que pedir para os meninos...

Mu foi para o meio da roda e começou a gritar...

- Deixem eu jogar um pouco!

Os garotos de bronze nada entenderam. O que estaria acontecendo com o cavaleiro de Áries? De qualquer forma não pararam muito para discutir, imediatamente passaram a bola para o ariano. Mu chutou desajeitadamente, a bola tomou um rumo completamente diferente do pretendido por ele. O "garoto" olhou para o gol desejando que a bola fosse naquela direção e como por um milagre a bola foi. Shaka ao ver o acontecido colocou as mãos sobre o rosto e murmurou para si mesmo:

- Agora fudeu de vez. Ele não tem nanhuma lembrança e nenhuma maturidade mas conserva todos os seus poderes. Nem os deuses sabem o que pode ser de nós agora. Eu não mereço isso! Decididamente eu não mereço. - acabou de resmungar e gritou por Shun.

- Mestre, o que houve com Mu?

- Boa pergunta. A pergunta que não quer calar. Ainda não sei e preciso pensar sobre isso. O máximo que posso afirmar é que ele não lembra nada sobre nós e está agindo como um bebê. Preciso que vocês fiquem tomando conta dele, enquanto eu pesquiso uma solução para nosso problema.

- Claro mestre. Cuidarei de Mu para o senhor. Pode ficar tranquilo.

- Ele está sob seus cuidados agora. Voltarei para meu templo e irei meditar. Por favor, Shun, só me incomode se for de extrema urgência. Peça a Saori que converse com Shion a respeito de tudo que está acontecendo. Talvez ele tenha alguma solução.

- Farei o que me pede.

- Obrigado Shun, sabia que podia contar com você.

Shaka voltou para seu templo, estava realmente preocupado com seu amado, porém precisava descansar e precisava também de um pouco de paz. Nada poderia resolver no estado de espírito que se encontrava. Arrumou metodicamente toda bagunça aprontada pelo "moleque", sentou em seu trono de Lótus e pôs-se a meditar. Desligou-se de todo o mundo exterior a procura do nirvana. Precisava urgentemente estar em sintonia com seu mestre Buda e com todas as forças da natureza para que pudesse enfrentar os perigosos inimigos que sabia ter pela frente.

Enquanto isso Mu ficou "hospedado" no templo do mestre. Shun já se arrependera amargamente de ter aceitado a incumbência de Shaka. Primeiro foi o jogo de futebol frustrado, porque o moleque direcionava todas as bolas para o gol e quando ela não estava nos pés dele, ele "chamava" a bola para si. Depois foi a hora do lanche. Estavam todos na cozinha e o "Muzinho" gritava:

- Tio, tô com fome, quero leite, quero pão de milho e requeijão...

- Mas só tem pão com manteiga. Trata de comer moleque! - Shun perdera a pouca paciência que ainda restava.

- Eu não gosto de manteiga... - e o berreiro estava armado.

- Bom, se você não quer manteiga pode ficar com fome mesmo.

- Tá bom, me dá um pouco disso mesmo... - Mu enfiou todo o pão na boca com a cara mais emburrada do mundo.

Será que Shion agüentou isso quando ele era aprendiz? Precisamos com urgência arrumar um mestre pra esse moleque. Shun chamou Saori para conversar. Ele sozinho não daria conta de Mu. Nunca antes cuidara de uma criança e ainda mais uma criança tão cheia de vontades.

- Saori, não sei mais o que fazer com Mu. Preciso de ajuda.

- Chame Shaka.

- Mas foi ele mesmo que deixou Mu sob meus cuidados. Creio que o mestre está estressado e confuso com tudo que está acontecendo, e em última instância Mu é sua responsabilidade.

- O que você está querendo dizer, Shun?

- Nada, nada, esquece.

Shun voltou para o jardim, onde havia deixado Mu. Neste momento ele encontrava-se brincando com algumas flores.

- Tio, você conhece o nome de todas essas flores?

- De algumas. Você gosta de flores?

- Eu acho elas bonitas. Mas não conheço. Na verdade, nem sei como cheguei aqui. Nem sei quem são vocês, mas vocês são legais.

- Você está no Santuário da Deusa Athena. Nem nós sabemos como você chegou aqui, mas gostamos de você.

- Bom.

- Você lembra de alguma coisa antes de chegar aqui?

- Lembro de uma gruta e uma tia muito bonita que me colocou no colo dela. Depois eu dormi e acordei aqui.

- E você está gostando daqui?

- A comida é ruim. Mas estou gostando sim.

Shun não pôde deixar de rir. Levantou-se e chamou pelo moleque.

- Está na hora de irmos pra cama, estou muito cansado e já passou da hora de dormir.

- Mas eu não quero dormir. Estou sem sono.

- Por Zeus, Mu, a lua já vai alta há muito tempo. Vamos, não discuta.

- Mas eu não quero.

Mu empurrou Shun que voou alguns metros e caiu sentado. Ele tinha a força de um cavaleiro e não sabia como controlá-la. Precisava tomar alguma providência antes que alguém se ferisse feio. Ele mesmo, se não fosse um cavaleiro, estaria com problemas sérios. Levantou-se e preparou-se para chamar a atenção do mal-educado.

- Mu, preste bem atenção. Nunca deve bater nas pessoas, principalmente nas pessoas mais velhas. Isso não é certo, se fizer de novo, vou ter que te colocar de castigo e amanhã nada de jogo de bola. Fui claro.

- Sim, tio. Desculpe, foi sem querer.

- Você tem que aprender a controlar a sua força. Amanhã vou começar a te ensinar isso. Agora vamos dormir sem mais discussões.

- Ta bom. – Mu emburrou a cara, mas seguiu Shun.

Shun já estava no limite de sua paciência e de sua força física. Levou Mu para uma suíte que havia sido preparada pelas servas de Saori. O ensinou a escovar os dentes, escovou seus longos cabelos lavanda os prendendo em uma trança e colocou-o na cama.

- Tio, posso te pedir uma coisa?

- Que foi agora? Estou muito cansado. Preciso tomar o meu banho para dormir.

- Tudo bem, deixa pra lá.

- Fale. Já começou agora fale. Verei se posso te ajudar.

- Só queria pedir para você me contar uma história que me ajudasse a dormir. Você parece saber tantas.

Shun ficou desnorteado. Toda sua prevenção e seu cansaço foram imediatamente esquecidos. A doçura e a carência do "pequeno" Mu amoleceram seu coração que já era de manteiga mesmo. Achou que era uma boa idéia contar para Mu sua própria história, quem sabe não despertasse algo em sua memória. Mas que parte ele contaria? Achou melhor falar sobre o cavaleiro que era capaz de consertar armaduras e ajudou a cinco cavaleiros de bronze a não morrer em uma batalha cruel. Sentou-se na cama e deixou que Mu deitasse em seu colo. Sentiu saudades de Hyoga. Não via a hora dele mesmo recostar a cabeça no colo de seu amado.

Fazia cafuné na cabeça de Mu enquanto ia contando um pouco do passado do Santuário e deles mesmos com voz suave e cadenciada. Em poucos minutos ouviu o ressonar suave e percebeu que o cavaleiro estava completamente adormecido. Um anjo. Ele não podia ser sempre assim? Colocou suavemente a cabeça do ariano sobre o travesseiro e foi para seu próprio quarto. Precisava descansar, precisava dos braços de Hyoga. Fora um longo dia e o dia seguinte prometia ser pior.

Mu realmente dormiu profundamente, mas durante a noite seu sono começou a se agitar. Tinha sonhos estranhos incompreensíveis e acordou gritando. Desnorteado e com medo já havia arremessado todos os objetos que encontrara pelo quarto longe. Parecia uma cena de possessão. Tudo voando desordenadamente pelo quarto. Todos foram acordados com o barulho e correram para o quarto, assustados com todo o barulho. Saori rapidamente foi pedir ajuda a Shion.

- Só você pode controlar Mu. Por favor, nos ajude!

Shion, já acordado por toda a confusão, correu para o quarto onde estava o pupilo. Usou seu grande poder de telecinese para fazer com que tudo que voava aterrissasse. Enquanto isso Saori correu para a cama e abraçou Mu, tentando acalmá-lo para que nada pior acontecesse.

- Calma, meu querido, já passou. Tudo está bem agora, foi só um sonho mau. Calma, você está seguro aqui.

- Tia, tinha uns homens com armaduras estranhas querendo me matar. Fiquei com tanto medo...

- Foi só um sonho mau, ninguém quer te ferir ou matar aqui.

- Será que você poderia dormir aqui comigo? Estou com medo!

Seiya olhou de cara feia. Se Saori ficasse com Mu quem ia ter sonhos maus era ele.

- Saori. Vamos para cama! Ele já passou da idade de dormir com a Tia.

- Eu vou fazer o que eu achar certo! Fique quieto Seiya, não piore as coisas! – Saori começou a se irritar com a insensibilidade do cavaleiro de Pégasus.

Mu olhou com raiva para o cavaleiro de Pégasus. Queria que aquele chato sumisse. De repente se viu uma grande luz dourada. Shion só teve tempo de gritar para Seiya evaporar antes de se ouvir uma grande explosão e uma parede destruída.

- Mu, por favor, se acalme. Eu vou ficar aqui com você. Não vou a lugar nenhum.

- Obrigado. – ele deitou-se e se abraçou a deusa, em pouco tempo dormia novamente. O cosmo quente de Saori o havia acalmado e consolado.

No dia seguinte Shion e Saori juntos resolveram visitar o templo de Shaka. Precisavam dele. Não conseguiam nada com Mu, apenas Shun tinha algum mínimo controle sobre o "garoto". O templo do mestre já estava parcialmente destruído com as crises de medo ou nervoso de Mu. Shion tentou ensinar um pouco de controle mas foi rejeitado. Não sabia como lidar com Mu. Quando ele era realmente pequeno e era seu pupilo, fora relativamente fácil, se impunha pelo medo. Além disso, ele tinha o objetivo de ser cavaleiro. Fora doutrinado para isso desde que nascera. Agora não. Tudo era diferente. Não sabia o que fazer.

Quando chegaram a Virgem, Shaka ainda meditava. Saori elevou seu cosmo chamando pelo cavaleiro. Quando Shaka saiu de sua meditação seu mau humor era indescritível.

- Espero que vocês tenham um bom motivo para quebrar minha concentração.

- Precisamos de sua ajuda! Não sabemos mais o que fazer com Mu.

- E eu com isso? Você criou esse problema! Resolva!

- Shaka, mais respeito!

- Respeito? Você só pode estar brincando comigo. Eu realmente não estou com ânimo para brincadeiras. Minha vida se transformou em caos por conta de suas estratégias. Agora eu tenho que resolver a sua vida? Minha obrigação é te proteger!

- Então me proteja de Mu.

- Com medo de crianças Saori?

- Com medo de uma criança muito poderosa que está completamente fora de controle e já destruiu minha casa toda.

Shaka não pôde fazer mais nada. A forma como as coisas tinham sido colocadas o forçava a envolver-se novamente. Seu coração estava sangrando. Sentia dor. Sentia medo. Sentia falta de Mu, do Seu Mu. E sentia-se acima de tudo impotente. Tantos sentimentos escondidos dentro de si eram extravasados em forma de péssimo humor, ironia e aparente descaso. Era a sua defesa. Mas agora precisava enfrentar novamente o problema de frente e não sabia como agir. Será que Camus havia descoberto algo em suas pesquisas? O francês era bom nisso.

- Irei para o templo em pouco tempo. Antes apenas falarei com Camus. Preciso saber como estão suas pesquisas. Não me demorarei, senhora.

- Obrigada, Shaka. Sabia que podia contar com você.

- Por favor, me poupe de ironias. Você não é uma especialista nisso.

- Credo! Você está mais azedo que limão estragado.

- Você definiu bem meu estado de espírito, então por favor, deixe-me apenas fazer meu trabalho! – Shaka fez questão de frisar a palavra trabalho.

Precisava de um banho e de comer algo, meditara por quase um dia inteiro. Banhou-se com calma, lavando com cuidado seus longos cabelos louros, colocou um sari leve e confortável, sabia que seu dia seria longo e desgastante. Comeu algumas torradas com geléia de amoras e uma xícara de chá. Estava pronto. Saiu de seu templo subindo as escadarias em direção ao templo de Saori, mas antes faria a escala em Aquário.

Quando chegava em Aquário, viu um Camus esbaforido com um livro empoeirado e velho nas mãos.

- Shaka que bom encontrá-lo, ia a sua procura.

- Novidades?

- Sim.

- Boas?

- Não sei... Entre, vamos conversar.

Shaka entrou em Aquário e se acomodou em uma cadeira, receoso. O Camus teria a dizer? Será que ele descobrira o que estava acontecendo com Mu? Aguardou que o outro começasse a falar.

- Como sabe, desde que Saori nos falou sobre as entidades comecei a fazer uma pesquisa sobre elas. Não encontrei muita coisa a princípio. Estava quase perdendo as esperanças quando encontrei este livro perdido na biblioteca.

- E o que ele nos esclarece?

- Bom, na verdade não é bem um livro, é uma espécie de diário de um lemuriano que lutou em outras épocas com estas mesmas entidades. Algumas coisas ainda não consegui traduzir, está em uma língua praticamente morta e os dicionários que temos dela não são muito completos. Muitas expressões estou tendo que traduzir pelo sentido e isso acaba atrasando o trabalho. Mas aparentemente, segundo o que consegui entender, este cavaleiro que lutou contra eles presenciou uma situação parecida com a que Mu está passando e identificou um feitiço utilizado por eles capaz de tirar a memória das pessoas. Ele descreve como foi feito para reverter este feitiço, mas está muito confuso. Preciso de ajuda, ainda não consegui encontrar um sentido lógico para tudo, mas fala alguma coisa, repetidas vezes, sobre o amor incondicional como sendo a chave de tudo.

- Amor incondicional, isso é tão vago... Como utilizá-lo? Como fazer? Que tipo de amor? Pai/filho, amigo/amigo, amantes?

- Não sei, como disse, está um tanto confuso, já me fiz essas perguntas mas ainda não consegui as respostas.

- Cada vez mais confuso. Está tudo cada vez mais confuso. Pelo menos já sabemos que este feitiço ou seja lá o que for, já foi utilizado alguma vez e que existe uma maneira de neutralizá-lo. Já demos um grande passo. Obrigado meu amigo. Por favor, continue seu trabalho. Vou conversar com Shion e ver se ele pode ajudá-lo. Tenho que ir cuidar de Mu. Ele está incontrolável segundo Saori e ela me escalou para dar um jeito na bagunça.

- Seria cômico se não fosse trágico. Bom trabalho Shaka... – Camus controlou o riso ao mirar a cara de desânimo do outro.

- Você tem andado demais com Milo. Está ficando muito engraçadinho.

Camus apenas riu. Não tinha o que falar. Sabia que no fundo Shaka tinha razão. O viu sair de seu templo apressado em direção a sala do mestre. Sentiu pena deles, mas não era hora de filosofar. Pegou o mofado exemplar e se preparou para retornar ao exaustivo trabalho de tradução. Era o que podia fazer agora para ajudar.